Noite Mágica (Notti Magiche – 2018)
Roma, Copa do Mundo de Futebol, verão de 1990 – Um famoso produtor de cinema é encontrado morto no rio Tibre e os principais suspeitos são três jovens aspirantes a roteiristas. Durante uma noite na delegacia, os jovens vivem uma jornada apaixonada, sentimental e irônica através dos esplendores e misérias da última temporada gloriosa do cinema italiano.
Paolo Virzì é um cineasta muito competente, “Capital Humano” (2013) é espetacular, entrou na minha lista de melhores em seu ano de estreia, os mais recentes “Loucas de Alegria” (2016) e “Ella e John” (2017) são pérolas que merecem maior reconhecimento.
A ideia para “Noite Mágica” nasceu durante o funeral de Ettore Scola, o último dos grandes medalhões cinematográficos italianos, Virzì decidiu homenagear em tom de agradecimento estes mestres de forma irreverente, sendo coerente em espírito às obras da era de ouro, resultando em um filme com várias referências para quem possui bagagem cinéfila, mas que talvez incomode um pouco os espectadores casuais, que podem se sentir como penetras na festa.
Há uma sequência divertidíssima logo no início, com a participação especial da bela Ornella Muti, mas o roteiro encontra dificuldade em encontrar novamente o mesmo equilíbrio tonal, perdendo-se enquanto farsa detetivesca. Antonino (Mauro Lamantia) é fortemente apegado/reverente à memória cultural, faz uso frequente de referências cinematográficas. Luciano (Giovanni Toscano) está preocupado apenas com a farra que a fama proporciona, mulherengo e inconsequente. Eugenia (Irene Vetere) é profundamente insegura, utiliza a arte como muleta intelectual.
Apesar da interessante ideia de representar três abordagens criativas na figura dos jovens roteiristas, os diálogos e situações pouco ajudam no intuito de torná-los simpáticos, falhando também em justificar organicamente o talento que os colocou naquela posição de destaque. Virzì força um pouco a mão na caricatura, reduzindo o que poderia ser encantador e descompromissado à algo simplesmente bobo e previsível.
A bela mensagem direcionada aos contadores de histórias, a importância de não se permitir corromper a integridade da obra por questões de mercado, preocupando-se mais com a jornada do que com o destino, resiste após o acender das luzes.
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