Independência ou Morte (1972)
Tendo como ponto de partida o dia da abdicação de D. Pedro I (Tarcísio Meira), é traçado um perfil do monarca, desde quando ainda menino veio da Europa, quando sua família fugia das tropas napoleônicas e sua ascensão à Príncipe Regente, quando D. João VI (Manoel de Nóbrega) retornou para Portugal. Em pouco tempo a situação política torna-se insustentável e o regente proclama a independência, mas seu envolvimento extraconjugal com a futura Marquesa de Santos (Glória Menezes) provoca oposição em diversos setores.
Que coisa curiosa, a lembrança que tinha deste filme não era das melhores, visto na infância algumas vezes em exibições televisivas e, como tarefa escolar, na sala de aula, enfim, não tinha como dar certo. Hoje, revi em exibição noturna no SBT, em uma cópia de alta qualidade, fiquei impressionado, direção de arte, fotografia, figurinos, elenco de estrelas do cinema brasileiro, locações no Palácio do Catete e na Quinta da Boa Vista, em suma, neste canto de cisne da Cinedistri há um refinamento que contrastava com as produções da época.
“Os grilhões que nos forjava. Da perfídia astuto ardil. Houve mão mais poderosa. Zombou deles o Brasil.” (Hino da Independência, de D. Pedro I e Evaristo da Veiga)
O argumento do grande Abílio Pereira de Almeida, mestre por trás de pérolas como “O Gato de Madame” e “Sai da Frente”, roteirizado por Dionísio Azevedo, Anselmo Duarte, Lauro César Muniz e o próprio diretor, o injustamente pouco lembrado Carlos Coimbra, de “Se Meu Dólar Falasse”, “O Santo Milagroso” e o excelente “A Madona de Cedro”, opta pelo didatismo sem firulas narrativas, com generosa utilização de legendas explicativas, a estrutura clássica e romantizada que a Hollywood dos anos dourados ensinou ao mundo, algo visto como demérito pelos cineastas do Cinema Novo que preferiam filmar por vários minutos uma árvore de cabeça para baixo, até que alguém na plateia gritasse: “Gênio!”
Outra crítica absurda levantada à época foi que o tema do patriotismo era uma propaganda da ditadura, algo que realmente só fui entender nos tempos atuais, quando testemunhei o estrago patrocinado pela corrupção do projeto criminoso de poder do “outro lado” e percebi a patética aversão da extrema-esquerda com a simples menção do Hino Nacional. O único problema real na trama é o ritmo arrastado de algumas passagens, principalmente no segundo ato, minimizado pelo carisma de Tarcísio Meira, uma presença em cena que remete à Marlon Brando.
O discurso final reforça a bonita mensagem, “curiosa figura a de Dom Pedro I, cheia de contradições… Um pai amoroso, um marido infiel”, no que José Bonifácio (Dionísio Azevedo) complementa: “Ele nos garantiu a consolidação deste vasto império, impediu a volta do Brasil à condição de colônia de Portugal… E, acima de tudo, deu-nos a independência.”
Na política, desde sempre, os modos pouco importam, a subjetiva perfeição de um salvador da pátria é um conceito infantilizado, acertos e erros pesarão na balança, para o bem do povo bastam a intenção justa e a atitude correta.
Um exemplar do gênero praticamente inexistente na cinematografia brasileira, o épico histórico, o filme merece ser reavaliado e redescoberto pelo público.
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