Morto Não Fala (2018)
Plantonista de um necrotério, Stênio (Daniel de Oliveira) possui um dom paranormal de se comunicar com os mortos. Trabalhando à noite, ele já está acostumado a ouvir relatos do além, mas quando essas conversas revelam segredos sobre sua própria vida, o homem ativa uma maldição perigosa para si e todos à sua volta.
Dennison Ramalho, conhecido pelos fãs do horror pelo curta “Amor Só de Mãe”, também responsável pelo roteiro do ótimo “Encarnação do Demônio”, de 2008, capítulo final da trilogia de Zé do Caixão, realiza com “Morto Não Fala” o seu primeiro longa-metragem, baseado em conto do jornalista policial Marco de Castro.
O horror é meu gênero de formação, aplaudo de pé toda iniciativa nesta seara, mas não posso me cegar para as fragilidades óbvias, não é com elogios exagerados e injustos que se faz uma indústria, muitos colegas preferem nem escrever sobre produções nacionais, foi exatamente a camaradagem boêmia e a falta de pulso da crítica brasileira nas décadas passadas que desenhou o quadro lastimável de uma nação continental que ainda engatinha insegura com seu cinema. É por amar esta arte (atuando ativamente nela como cineasta independente) e querer que nossa produção melhore que aponto os vários problemas do filme.
O primeiro ponto que me incomodou foi o desequilíbrio tonal, quando a tensão te pega pelo mistério do não-dito, insinuando os conflitos psicológicos do protagonista, o roteiro logo empobrece tudo reforçando que os eventos são fincados na realidade. Analisando com atenção, dá para perceber a rota confusa nos bastidores, o conflito de linguagem, por vezes com vícios televisivos, outras ousando mais na estética. A execução do conceito da comunicação com os mortos remete à despretensão cativante das revistas em quadrinhos, mas, toque precioso, se não dá para fazer direito a computação gráfica, melhor pensar em outro caminho, o resultado dos efeitos digitais nas frequentes interações entre Stênio e os cadáveres induz risos involuntários, um problema que poderia ter sido solucionado com um pouco de sutileza, mantendo as vozes na mente do personagem, mas a equipe criativa decidiu correr o risco.
A primeira cena mais impactante de violência, fundamental na trama, com uso tímido de gore, infelizmente é prejudicada pela reação absurdamente inverossímil da personagem de Fabiula Nascimento à situação apresentada, falha básica de roteiro que compromete no pior momento a imersão emocional do espectador. Há também muita gordura extra, a longa duração não se justifica, o segundo ato se arrasta, conduzindo a um desfecho inconclusivo, que, de tão desconectado em estilo e execução aos primeiros quarenta minutos, embarcando numa genérica possessão demoníaca, com jump scares desgastados, até parece imposição de algum executivo visando atrair o mercado norte-americano, entregando mais do mesmo com menor qualidade de produção, por sinal, estratégia bem tonta.
O elenco é talentoso e faz o que pode, o problema está no esqueleto da obra. Ramalho é um profissional competente, já provou isto, mas precisa entender que inchaço não granjeia valor, menos é sempre mais, a experiência com os curtas devia ter ensinado isto.
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