Klaus (2019)

Em Smeerensburg, remota ilha localizada acima do Círculo Ártico, Jesper (Jason Schwartzman) é um estudante da Academia Postal que enfrenta um sério problema: os habitantes da cidade brigam o tempo todo, sem demonstrar o menor interesse por cartas. Prestes a desistir da profissão, ele encontra apoio na professora Alva (Rashida Jones) e no misterioso carpinteiro Klaus (J.K. Simmons), que vive sozinho em sua casa repleta de brinquedos feitos a mão.

O espanhol Sergio Pablos já trabalhou no departamento de animação de alguns medalhões da fase renascentista da Disney, como “Hércules” e “Tarzan”, mas ele era até o momento mais conhecido como o criador da história da franquia “Meu Malvado Favorito”, só que, com esta pérola natalina, uma ideia antiga que ele ofereceu para várias produtoras sem sucesso, abraçada finalmente pela Netflix, a sua estreia na direção, ele consegue algo raro, entregar uma obra encantadora no subgênero que foge dos clichês, profundamente comovente.

“Um ato gentil de verdade sempre gera mais gentileza.”

O traço da animação é fascinante, carregado de personalidade, resgatando a beleza artesanal dos clássicos. Pablos ficou motivado ao imaginar como estaria hoje a evolução natural da técnica na indústria ocidental, caso ela não tivesse embarcado no boom da computação gráfica na década de 90. É agradável aos olhos, mas o brilhantismo do filme está no seu conceito e, principalmente, na sua adorável execução, com esperto senso de humor.

O ódio, o nós contra eles, a falta de uma base moral na infância e adolescência, ferramentas que titereiros do caos irresponsavelmente utilizam para desestabilizar o terreno, deixando-o fértil para manipulação. Na alegoria proposta no roteiro, conhecemos a natural consequência em longo prazo deste processo, a população de Smeerensburg se divide literalmente em dois grupos que não se suportam, não há diálogo, apenas um sino no centro desta arena de batalha, elemento utilizado exatamente para convocar de forma direta o confronto físico. Inserir neste contexto a figura de um carteiro é genial em sua simbologia, como o pobre Jesper conseguirá bater sua meta de envio de cartas e ser liberado de sua punição?

Os adultos estão contaminados pelo rancor, as crianças sorumbáticas, o cinza sombrio que domina cada ambiente é a expressão visual da ausência de esperança. A educação formal, por conseguinte, o respeito pela figura de autoridade, o primeiro obstáculo eliminado por aqueles que desejam inverter valores para controlar a massa. Alva, a jovem professora que havia chegado outrora cheia de sonhos, agora, sem alunos, sobrevive amarga vendendo peixes.

A visão simples, poética e surpreendentemente sem misticismo, da figura tradicional do Papai Noel, ganha pontos pela ousadia, uma versão original de sua origem calcada na gentileza como antídoto para a escalada de agressividade no local. Há uma força considerável na mensagem que reverbera após a sessão, a carta, tida por muitos hoje como algo obsoleto, sendo utilizada como veículo determinante na transformação positiva que será operada, em suma, a celebração do conservadorismo.

Vale destacar a excelente versão brasileira, produzida pelo estúdio Delart, com direção de Manolo Rey e as vozes de Rodrigo Santoro (Jesper), Daniel Boaventura (Klaus), Fernanda Vasconcellos (Alva), Mariangela Cantú (Sra. Krum) e Élcio Romar (Sr. Ellingboe).

“Klaus” é uma linda oportunidade para reunir a família na frente da televisão, honrando a importância de manter tradições, diversão garantida para pais e filhos, em qualquer período do ano.

Cotação: devotudoaocinema.com.br - Crítica de "Klaus", de Sergio Pablos, LINDA animação na NETFLIX



Viva você também este sonho...

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