Deadlock (1970)
Em uma cidade deserta no meio do nada, três homens desesperados brigam por uma mala cheia de dinheiro.
A plataforma de streaming MUBI é a mais interessante, exatamente por oferecer material qualitativo, com curadoria. Só lá você encontra, por exemplo, este neofaroeste alemão exótico, ambientado na década de 70 e filmado em Israel, com trilha sonora da banda de rock experimental, Can.
O roteirista/diretor, Roland Klick tem uma filmografia pouco expressiva, “Deadlock” é seu melhor trabalho, utilizando com muita personalidade as convenções visuais dos faroestes italianos, com a fotografia coerentemente suja de Robert Van Ackerman e a presença sempre marcante do grande ator suíço Mario Adorf.
Klick publicamente afirmou que tentou levar frescor aos clichês do gênero, há um poderoso simbolismo na imagem decorativa do clássico cowboy norte-americano acima da marquise com o “braço” quebrado. O tom da obra é pós-apocalíptico, os homens são gananciosos, desesperados, as únicas figuras femininas são patéticas, uma envelhecida mulher da vida (Betty Segal) e sua bela filha muda (Mascha Elm-Rabben), o cenário desértico apenas enfatiza o vazio interno daqueles indivíduos.
É uma pena que o filme tenha sido injustamente criticado à época por colegas invejosos e inseguros, que se autoproclamavam “a voz do novo cinema alemão” (similar ao que alguns mimados do Cinema Novo brasileiro fizeram com tudo o que era popular), argumentando que a participação da obra em Cannes era um equívoco, já que “Deadlock”, por abraçar um gênero norte-americano, não representava a real identidade da indústria do país. Uma grande bobagem, claro, Klick, diferente de seus colegas, pensava cinema como arte de apelo universal, não produzia pensando apenas no próprio umbigo.
O desfecho é brilhante, com movimentos de câmera vertiginosos e muita criatividade na edição, pura tensão, estilizado na forma como homenageia claramente Sergio Leone e, ao mesmo tempo, subvertendo as tradições.
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