A Proposta (The Proposal – 2009)
Quando a poderosíssima editora de livros, Margaret (Sandra Bullock), se vê diante da deportação para o seu país de origem, o Canadá, a executiva declara que na verdade está noiva de seu desprevenido e injustiçado assistente, Andrew (Ryan Reynolds), que ela atormenta há anos.
Na época do lançamento do filme, rolava pelas redes sociais um texto revoltado sobre ele escrito por uma militante feminista brasileira, motivo que me despertou ainda mais vontade de ver a obra, dirigida pela competente Anne Fletcher, roteirizada por Peter Chiarelli, responsável pelo recente sucesso de bilheteria, “Podres de Ricos”. Se incomoda mentes reducionistas e vitimistas, a probabilidade de ser muito bom é expressiva.
O gênero da comédia romântica talvez seja um dos mais maltratados nas últimas décadas pela indústria norte-americana, roteiros que usualmente transformam os personagens em robôs, exatamente por este motivo é fundamental aplaudir projetos que respeitam a inteligência e a maturidade emocional do público, equilibrando as convenções com pitadas de originalidade.
“A Proposta” diverte sobremaneira, amparado no carisma de sua protagonista, Sandra Bullock, com o auxílio encantador da veterana Betty White como a vovó desbocada, brincando com o conceito de um romance que brota do mais profundo egoísmo, temperado pela hostilidade gratuita. Os cinéfilos mais dedicados vão captar a provável inspiração em “Green Card – Passaporte Para o Amor” (1990), com Gérard Depardieu e Andie MacDowell, mas Fletcher nada de braçada no gênero, enquanto que o predecessor pecava pela mão pesada de Peter Weir, perceptivelmente desconfortável com o material.
Aos olhos de Margaret, o sentimentalismo é um artifício distrativo, um obstáculo na jornada profissional, ela é amargurada, projeta na carreira as frustrações existenciais. Odiada pelos colegas, inclusive Andrew, que sonha há anos em publicar um livro que sua chefe sequer retirou da gaveta para analisar. Quando ela propõe a farsa romântica, a cena mais emblemática, em que o humilhado vira a mesa e faz a megera se ajoelhar no asfalto de uma rua lotada, o humor nasce não tanto da situação em si, mas da patética preocupação dela em tentar manter sua dignidade intacta.
A transformação que ocorre nos dois, após o isolamento forçado longe das tensões da cidade grande, obviamente envolve constrangimento e falsas impressões, há espaço para algumas sequências bobinhas, mas a forma natural com que a direção trabalha a química inusitada do casal aquece até os corações mais frios.
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