Happy Old Year (2019)
Durante uma reforma na sua casa, uma mulher volta ao passado depois de encontrar alguns pertences do ex-namorado.
Não conhecia o trabalho do roteirista/diretor tailandês Nawapol Thamrongrattanarit, mas fiquei positivamente surpreso com a sensibilidade, a delicadeza deste tesouro que merece ser garimpado.
O conceito é simples, uma jovem (excelente Chutimon Chuengcharoensukying), que sofre a ausência paterna, busca se autoproteger emocionalmente negando o apego pelas coisas, do LP que escutava na adolescência à máquina fotográfica, ela simplesmente joga tudo em sacos de lixo. A desculpa elegante que utiliza é rasa, estilos modernos de decoração que fazem coro ao discurso da garotada, desprezando o passado.
A crítica é clara, personagens debocham da mídia física, VHS, CD, ignorando que o ritual de apreciação também se perde, não é coincidência que a indústria fonográfica empobreceu em qualidade nas últimas décadas. Há beleza na tatilidade cultural, no ato de colecionar, cuidar, valorizar até mesmo o aroma da flor seca que marca as páginas de um livro.
A intangibilidade tecnológica é prática, mas exaure a experiência de encantamento. A mãe da personagem sabe disto, ela não quer se desfazer do piano antigo que era tocado pelo marido que a abandonou, aquele instrumento musical foi testemunha de momentos lindos e alegres da família, apesar de saber que aquela memória física no ambiente faz sofrer a filha. O filme nos conduz então por um processo sóbrio e terno de aprendizado, quando a jovem sente na pele a dor de ser descartada.
O equilíbrio é o melhor caminho, manter viva a memória e se adaptar ao novo, mas não é fácil, a batalha interna só pode ser travada com segurança ao se amadurecer a compreensão de que a mudança de atitude não depende de elementos externos, ela é a mais importante e a mais eficiente.
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