Meu Jantar com Hervé (My Dinner with Hervé – 2018)
A trama acompanha uma incomum amizade que se forma numa noite insana em Los Angeles, entre o jornalista Danny Tate (Jamie Dornan) e o ator anão Hervé Villechaize (Peter Dinklage), da série “A Ilha da Fantasia”. O encontro dos dois resulta em consequências que mudarão as vidas de ambos.
O ritmo é ágil, a impressão que fica minutos após o término da sessão é de saudade daquele personagem, apesar de seus pífios esforços em cativar o jornalista, e, por conseguinte, o público, há ternura suficiente em sua amargura para humanizar aquela figura de comportamento exótico. A convivência com Hervé é tão intensa, opção consciente da edição (curta duração e acontecimentos sendo resumidos em pinceladas), captando a brevidade de sua experiência de vida, que o súbito desfecho desarma os conceitos que formamos sobre sua personalidade ao longo da obra.
É fácil apontar de fora os erros do indivíduo, o próprio roteiro utiliza esta característica impessoal na simbólica cena da invasão noturna na mansão, mas é preciso sentir na pele os conflitos internos e externos de uma pessoa, antes de julgar seus atos. Ao revelar no desfecho que o narrador não é confiável, tocando em um evento específico fundamental, a noite de estreia de “007 Contra o Homem com a Pistola de Ouro”, o filme insinua que as descrições com poucos detalhes nas sequências em flashback escondem muita dor.
O verdadeiro jornalista, o real Danny, Sacha Gervasi, roteiriza e dirige esta tocante homenagem ao legado artístico do francês Hervé Villechaize, alma atormentada que aprendeu inglês sozinho com o cinema hollywoodiano, lutou para encontrar trabalhos dignos na área sendo anão, conseguindo fama mundial principalmente como o popular Tattoo, o adorável assistente do anfitrião Roarke, vivido por Ricardo Montalbán, na série “A Ilha da Fantasia”. O carinho dos fãs não foi suficiente para compensar os traumas psicológicos referentes à sua condição física, e, principalmente, a frieza de sua mãe, que não aceitava sua existência.
O leitmotiv é lindo, vemos como Hervé lidava de peito aberto com os problemas, como ele vivia seu sucesso sem freios, consciente de que aqueles preciosos momentos não durariam muito tempo. A trama alterna estas situações com insights da vida pessoal do jornalista, que tentava se livrar do álcool, tendo prejudicado sua relação com a mulher (vivida por Oona Chaplin), soma de fatores que o tornava cada vez mais inseguro, até profissionalmente, resignado em uma função que o limitava, recebendo ordens de uma chefe desprovida de empatia.
O toque sensível na reviravolta do terceiro ato é sintetizar esta vivência única, um relato quase surreal, em uma mensagem de fortalecimento de caráter. Danny aprendeu com o mestre mais improvável que é importante ter coragem, buscar ser sempre o protagonista de sua própria história.
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