O Homem Que Nasceu de Novo (The Mind of Mr. Soames – 1970)
A mente de John Soames (Terence Stamp), um homem de 30 anos, vivendo em estado de coma desde seu nascimento, é despertada em uma cirurgia realizada por dois brilhantes médicos, que não se entendem na forma de como reeducar o renascido.
A produtora Amicus é conhecida pelos cinéfilos mais dedicados como a realizadora de ótimas antologias de terror, a maior rival da Hammer, mas poucos conhecem esta pérola preciosa que costumava ser exibida na televisão brasileira em meados da década de 80, um ponto fora da curva dentre os títulos do estúdio inglês, apostando corajosamente fora de sua zona de conforto, fortalecido pela presença do sempre competente Terence Stamp, logo depois de sua experiência com Pasolini em “Teorema”.
Adaptado por John Hale e Edward Simpson do fraco livro homônimo escrito por Charles Eric Maine, o filme é prejudicado pela direção insegura de Alan Cooke, fortemente contaminada pelas convenções televisivas da época, terreno que ele conhecia bem, mas ganha pontos pela presença sempre competente de Stamp, que abraça convincentemente o desafio de viver basicamente um bebê no corpo de um adulto, sem resvalar no humor (não é uma comédia) ou em clichês emocionalmente facilitadores.
Um aspecto fascinante é a forma como a trama aborda o papel sensacionalista da imprensa no caso, captando tudo com suas câmeras e, em alguns momentos, forçando irresponsavelmente respostas negativas com fins puramente mercadológicos. A postura midiática, hoje comum no formato “reality show” (que de realidade não tem nada), tratada à época como ficção científica improvável, engrandece o resultado.
Vale destacar a aura idílica, mérito da fotografia do grande Billy Williams, nas sequências em que John se aventura fora do hospital. O desfecho é inconclusivo, o que pode incomodar alguns, permitindo ao espectador imaginar como o protagonista vai se adaptar à realidade da vida.
“O Homem Que Nasceu de Novo” é um obscuro drama psicológico que merece ser redescoberto.