Proposta Indecente (Indecent Proposal – 1993)
- O texto contém spoilers, então recomendo que seja lido após a sessão.
Um adorável casal, David (Woody Harrelson) e Diana Murphy (Demi Moore), tem um futuro brilhante. Ele é um arquiteto; ela corretora. Mas eles estão passando por uma crise financeira. Em uma última tentativa de salvar a casa de seus sonhos, eles vão para Las Vegas a fim de ganhar dinheiro no jogo e conseguirem pagar a hipoteca. Após perderem tudo, um misterioso bilionário (Robert Redford) oferece uma solução para o seu problema financeiro.
“Até mesmo um tijolo quer ser alguma coisa…” (frase do arquiteto Louis Isadore Kahn, defendida pelo personagem de Woody Harrelson)
O livro homônimo original de Jack Engelhard é bem interessante, só encontrei anos atrás na internet, em PDF, em inglês.
O autor se aprofunda nas questões filosóficas (com destaque para o simbolismo do marido judeu que escapou do regime alemão na infância, contra o bilionário árabe, algo que foi cortado) que, obviamente, a adaptação cinematográfica substitui por imediatista tensão e leve entretenimento, mas, no geral, o filme é competente, apesar de ser tonalmente esquizofrênico. Em revisão recente, surpreendeu positivamente, resistiu muito bem ao teste do tempo.
É louvável que, em nenhum momento, o roteiro demonize a esposa e o bilionário, tampouco alivie a carga de culpa do marido, fica evidente desde o início que os três são vítimas de suas próprias fragilidades humanas.
O homem abastado reconhece eventualmente o cruel erro cometido por puro capricho egoísta, a bela mulher compreende entristecida que abdicou do amor sincero por um vislumbre dourado, e, na solidão da culpa, o marido descobre na dor o impulso necessário para correr atrás dos seus objetivos pessoais e profissionais, ressignificando o relacionamento conjugal.
Outro toque inteligente da trama foi negar ao espectador o registro audiovisual do que ocorreu na noite romântica no iate, colocando o público na pele de David, intensamente angustiado.
“Proposta Indecente” foi muito apedrejado na época, mas merece ser reavaliado com um olhar mais generoso.