Enola Holmes (2020)
Inglaterra, 1884. O mundo está prestes a mudar. Na manhã do seu aniversário de 16 anos, Enola Holmes (Millie Bobby Brown) descobre que a mãe (Helena Bonham-Carter) desapareceu, deixando para trás alguns presentes enigmáticos e um grande mistério sobre seu paradeiro. Enola cresceu muito livre, mas agora passa a viver sob os cuidados dos irmãos Sherlock (Henry Cavill) e Mycroft (Sam Claflin), que decidem mandá-la para uma escola de etiqueta para aprender boas maneiras.
O conceito não é novo, outros projetos brincaram com o universo criado por Arthur Conan Doyle, “Bancando o Águia”, de Buster Keaton, “O Irmão Mais Esperto de Sherlock Holmes”, de Gene Wilder, “A Vida Íntima de Sherlock Holmes”, de Billy Wilder, e “O Enigma da Pirâmide”, de Barry Levinson, exemplos de ótimos roteiros que souberam tratar com respeito a inteligência do público, sem deslegitimar o clássico personagem, “Enola Holmes” infelizmente não entra neste seleto grupo.
A Netflix e a produtora do filme, inspirado em “Os Mistérios de Enola Holmes”, série policial infantojuvenil escrita por Nancy Springer, foram processados pelo espólio do autor britânico, polêmica que já ganhava as manchetes da imprensa semanas antes de sua estreia. A realidade é que, ao contrário dos projetos citados, o roteiro de Jack Thorne modifica traços emocionais essenciais do detetive (algo só explorado nos romances tardios, que não estão em domínio público), que, de misantropo na literatura, acaba se tornando uma espécie de “filhinho da mamãe”, evidentemente beneficiando a construção de uma personagem mais brilhante e psicologicamente segura, a irmã adolescente dele, jogada óbvia que satisfaz a cartilha progressista da indústria, e, claro, incomoda (com razão) os fãs mais xiitas.
Dito isto, analisando a obra por aquilo que ela se propõe a ser, o resultado é divertido, despretensioso, ainda que esquecível, amparado no carisma inegável da talentosa jovem Millie Bobby Brown, maior mérito da produção, que ganhou fama mundial como a Eleven da série “Stranger Things”. A direção de Harry Bradbeer não esconde suas raízes televisivas, carece de uma assinatura mais firme, problema perceptível principalmente nas sequências de ação.
A narrativa é leve, por vezes até demais (dá a impressão de que seria material mais adequado para uma animação), prejudicada pela desnecessária longa duração, mas a mensagem de empoderamento feminino é transmitida com eficiência para seu público-alvo, a garotada de até 15 anos, logo, exposta com a sutileza de um elefante numa loja de cristais, em suma, “Enola Holmes” caberia perfeitamente como episódio piloto em um canal de entretenimento infantil.
Cotação:
Essa é a Segunda Crítica Realista que eu vejo sobre esse filme. Eu ainda não vi, por isso não vou Opinar. Pelo que estão dizendo, essa produção deveria ser uma série televisiva e não um longa-metragem.