Instinto (Instinct – 2019)
Nicoline (Carice van Houten), uma psicóloga experiente que trabalha em uma instituição penal, começa um caso com um criminoso, Idris (Marwan Kenzari), que parece estar pronto para retornar à sociedade.
A estreia na direção da atriz holandesa Halina Reijn é positivamente arriscada, remetendo em seus melhores momentos ao excelente “Elle” (2016), de Paul Verhoeven, favorecida pela entrega franca de Carice van Houten, amiga e parceira em vários projetos, com um roteiro, de Esther Gerritsen (a partir do argumento de Reijn), que reutiliza um conceito similar à vários thrillers apimentados da década de 90, mas que conduz o público a duvidar no segundo ato da resistência da tênue linha de sanidade que separa a psicóloga e o marginal, um viés que suscita ao final da sessão muitas questões não exploradas, algo que pode incomodar algumas pessoas.
Há problemas na execução, algumas escolhas narrativas puramente pretensiosas que resultam em quebra de ritmo, outras (como uma envolvendo um cão) que são inegavelmente rasteiras, preguiçosas, e, por conseguinte, prejudicam a imersão emocional, barrigas entediantes que desviam o foco, tempo que poderia ter sido utilizado para trabalhar melhor a transição comportamental da protagonista, de profissional segura a vítima fragilizada da manipulação. Algumas ações de Nicoline neste processo soam forçadas, já que a tensão carnal, que, em teoria domina o relacionamento, falha ao jamais transcender a caricatura.
“Instinto” é imperfeito, pouco crível nas arestas, mas evidencia o talento promissor de Reijn ao aceitar correr riscos, como nos contornos arrepiantes na interação entre Nicoline e sua mãe, vivida por Betty Schuurman. As lacunas insinuam uma complexidade que jamais é alcançada, mas a obra merece pontos por, dentre tantos projetos conformistas na indústria, optar pela ousadia.
Cotação:
*O filme, distribuído pela A2 Filmes, estreia nas salas de cinema de São Paulo em 16/10.