Onde Estão Minhas Crianças? (Where are my Children? – 1916)
Um promotor público, enquanto processa um médico por abortos ilegais, descobre que as pessoas do seu ciclo social – incluindo sua esposa – utilizaram os serviços do médico.
Quando a imprensa e as feministas de hoje celebram as mulheres pioneiras do cinema, normalmente o nome de Lois Weber é eclipsado, jogado para baixo do tapete, quando muito destacam “Shoes” (1916) ou “Suspense” (1913), um curta brilhante que apresentava ideias inovadoras como a tela dividida, mas o histórico dela não serve à agenda progressista, principalmente o tema de seu melhor filme, “Onde Estão Minhas Crianças?”, logo, ela é preterida por nomes como Alice Guy-Blaché, Mabel Normand, Germaine Dulac e Olga Preobrazhenskaya.
Lois era evangelista, trabalhava para a organização evangélica “Church Army Workers”, mas também se apresentava publicamente como pianista e soprano. Ela enxergava o teatro, a arte de atuar, como uma forma de levar o cristianismo às vidas das pessoas, em 1917, ela se tornou a primeira diretora a fundar e administrar seu próprio estúdio, a Lois Weber Productions, produzindo obras com forte pegada autoral; no mesmo ano, foi a única mulher a receber membresia para a Associação de Diretores de Cinema. O jogo é tão sujo, que quando se referem à ela hoje, utilizam a expressão “antiquada”, seus filmes que falam contra a agenda são tidos como “tematicamente complicados”, o único que recebe elogios é “Hipócritas” (1915), em que ela, como evangélica séria, fazia críticas legítimas aos estelionatários da fé. Mas, mesmo assim, os textos recriminam seu viés “moralista”.
A forte mensagem anti-aborto de “Onde Estão Minhas Crianças?” já é declarada logo na primeira cena, vemos os portões do paraíso com vários anjos que esperam para nascer, almas puras. As feministas de hoje consideram normal aniquilar bebês em formação, mas são totalmente contrárias à pena de morte para criminosos, uma incoerência, não enxergam problema em eliminar inocentes, mas lutam contra utilizar a mesma régua moral em adultos verdadeiramente monstruosos. Não há problema em defender qualquer ideologia, mas é fundamental que sua defesa seja alicerçada em coerência.
A mensagem clara da obra é um meio-termo lúcido e sensato, o planejamento familiar (com anticoncepcionais) é algo que deve ser feito com responsabilidade. E a cena final representa bem este simbolismo, é, ainda hoje, linda e profundamente triste, uma das mais impactantes da era do cinema silencioso, os fantasmas das crianças (seguidos de suas versões adultas) buscando o carinho do envelhecido e triste casal sem filhos diante da melancólica lareira de uma casa solitária.
Lois merece ser redescoberta e ter seus trabalhos (aqueles que sobreviveram) estudados. O seu falecimento em 1939, aos 60 anos de idade, por hemorragia devido a uma úlcera perfurada, causou comoção na comunidade cinematográfica, a imprensa da época ressaltava sua contribuição inestimável à arte.
- Você consegue encontrar o filme facilmente no Youtube.