Pieces of a Woman (2020)
Martha (Vanessa Kirby) e Sean Carson (Shia Labeouf) são um casal de Boston à beira da paternidade, cujas vidas mudam irrevogavelmente durante um parto domiciliar nas mãos de uma parteira perturbada, que enfrenta acusações de negligência criminosa. Assim começa um longo ano para Martha, que deve navegar em sua dor enquanto trabalha em relacionamentos turbulentos com seu marido e sua mãe (Ellen Burstyn), junto com a parteira publicamente difamada que ela deve enfrentar no tribunal.
As parcerias anteriores do diretor húngaro Kornél Mundruczó com a roteirista Kata Wéber, “Deus Branco” (2014) e “Lua de Júpiter” (2017), foram elogiadas em passagens por festivais, mas são aquele típico material umbilical e vazio de execução insuportável que todo crítico pedante e inseguro adora utilizar como muleta intelectual.
“Pieces of a Woman” compartilha os mesmos defeitos, mas seu trunfo é entregar excelentes 24 minutos iniciais, sequência filmada em um único take, em que acompanhamos a dor da mãe no complicado processo do parto em casa, uma atuação inspiradíssima de Vanessa Kirby. A cena é intensa, brutal, realista, pensada para arrancar aplausos e estatuetas dos acadêmicos, só que é uma ilha cercada por tédio e fraquíssimo (nada convincente) desenvolvimento de personagens.
O conceito tinha bastante potencial dramático, as consequências psicológicas no relacionamento do casal, o conflito da jovem com sua mãe dominadora (a insinuação sutil de que seu relacionamento com o marido se originou como pura rebeldia contra ela) e as formas de se lidar com o luto, mas, infelizmente, o roteiro desperdiça o elenco brilhante em exibições desconjuntadas blasé de pretensiosismo, conseguindo a proeza de dificultar a imersão do público com a opção por um ritmo excessivamente contemplativo.
A nítida impressão que passa ao (decepcionante) final é que o filme se justifica apenas pela longa e excruciante sequência do parto, uma pegada exploitation elegante.
Cotação: 
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