Malcolm e Marie (Malcolm and Marie – 2021)
Um cineasta (John David Washington) e sua namorada (Zendaya) lavam a roupa suja e fazem revelações dolorosas depois da estreia do filme dele.
Uma boa maneira de constatar como a sociedade empobreceu existencialmente nas últimas décadas é comparar a inteligência emocional e a maturidade psicológica dos roteiros que abordavam relacionamentos tempestuosos outrora com os raros projetos atuais pensados para o público adulto. Cada geração tem o “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” que merece.
O roteirista/diretor Sam Levinson é excessivamente paparicado pela imprensa por seu trabalho na série “Euphoria”, conta com dois longas fracos no currículo, “Bastidores de Um Casamento” (2011) e “País da Violência” (2018), mas dobrou a aposta em seu pretensiosismo blasé neste novo projeto.
Levinson se mostra mais preocupado com a perfumaria estética do que com a credibilidade da situação apresentada neste teatro filmado sem personalidade, desnecessariamente longo e repetitivo, verdadeiramente entediante, que falha no elemento essencial, jamais enxergamos na tela um casal orgânico, não há química em cena que insinue intimidade tangível (intensidade na briga não é sinônimo de naturalidade), apenas atores despejando (com competência inegável) falas memorizadas, algo sintomático do mal que acomete uma indústria que, nos últimos 20 anos, ficou acostumada por questões mercadológicas à abordar o comportamento humano da forma mais infantilizada e rasteira.
O aspecto minimalista (só duas pessoas interagindo por quase duas horas) tinha um potencial cinematográfico tremendo, mas até mesmo os excelentes monólogos cansam após o entendimento (pelas repetições no terceiro ato) de que não servem efetivamente para avançar a narrativa, não desenvolvem os personagens, não sustentam sozinhos a estrutura dramática de “Malcolm e Marie”, a briga pela briga só funciona em octógonos de MMA.
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