O Que Vocês Fizeram Com Solange? (Cosa Avete Fatto a Solange? – 1972)
Começo dizendo que este é o meu segundo giallo favorito, depois do “Profondo Rosso”, de Dario Argento. Ao rever o filme pela enésima vez na edição impecável da distribuidora Versátil, confirmei minha paixão por esta obra-prima, que transcende sua importância no gênero, dirigida por Massimo Dallamano, com fotografia de Joe D’Amato.
Para você ter ideia do quanto gosto dele, considero a trilha sonora uma das dez melhores na carreira do genial Ennio Morricone, o que é dizer bastante, levando em conta a qualidade do seu conjunto de obra. Ele transita com segurança de um tema pleno em ternura para a tensão pura e inescapável.
É um crime revelar qualquer ponto da trama em um texto informativo que intenciona te fazer buscar conhecer o filme, tenha certeza, a ignorância é uma bênção em nove entre dez gialli. O que posso mencionar aqui é um detalhe que me perturbou quando vi pela primeira vez, o fato de que a tal Solange do título sequer é citada no roteiro até um avançado ponto no segundo ato, algo que se resolve de forma brilhante e totalmente inesperada.
O frame que fecha a história consegue transmitir um misto de piedade, terror e doçura, uma grandeza que salienta o valor deste gênero, uma imagem que dificilmente sairá de sua mente. A atmosfera alcançada insinua a predominância da maldade naquela realidade aparentemente tranquila, o elemento que conduz pessoas corretas e equilibradas a perpetrarem atos doentios.
Acho fascinante a maneira como o casal, vivido por Fabio Testi e Karin Baal, inicia com sérios problemas no relacionamento desgastado, mas que, no decorrer da trama, sente a reaproximação diante do mistério a ser resolvido, um arco narrativo complexo e executado com eficiência, o que engrandece ainda mais o projeto. Perceba o cuidado com o visual da esposa, como ele se modifica juntamente com as suas atitudes na relação, refletindo o psicológico dela.
E perceba também como o protagonista, alguém muito longe de ser um santo, nunca é estereotipado no roteiro, outro ponto pouco usual e que reforça a maturidade emocional da trama.