O Alerta Vermelho da Loucura (Il Rosso Segno della Follia – 1970)
Para qualquer um que duvide da genialidade de Mario Bava, basta prestar atenção neste filme, que aborda a gradual perda de sanidade de um homem, dono de uma loja de design nupcial, que, abalado por um trauma, acaba se tornando um assassino de noivas.
De forma sutil, diferente de suas obras mais famosas, ele demonstra sua preferência pela identidade visual, podendo ser equiparado a outro mestre das minúcias, Alfred Hitchcock. Sem revelar spoilers, algo verdadeiramente prejudicial na experiência com sua filmografia, eu posso citar três exemplos, momentos que me fizeram pausar e voltar estas cenas.
Perceba como ele trabalha o vestuário do protagonista, vivido por Stephen Forsyth, evidenciando a figura da corrente branca no cinto, em destaque nas roupas de tom escuro, que ele usa praticamente o filme todo. Um homem acorrentado ao trauma de sua infância. E, o mais interessante, no exato momento em que ocorre o maior plot twist, que obviamente não revelarei, ele está usando uma espécie de pijama, com correntes desenhadas dos pés à cabeça, mostrando que, daquela cena em diante, não há mais possibilidade de fuga para o personagem.
O segundo exemplo ocorre na cena da escadaria, onde ele encontra uma visão aterrorizante, que o encara ameaçadoramente. Em qualquer filme similar, a ação seria resumida ao estabelecer da situação, porém, Bava estende a sequência ao máximo, fazendo com que a aparição volte o olhar para ele diversas vezes, potencializando a arrepiante estranheza e o tom de pesadelo.
O terceiro exemplo eu considero, de fato, uma aula. Já próximo do desfecho, o sutil tremor de nervoso em uma personagem que, em teoria, não teria motivo algum para exibir tal reação. Um detalhe que pode até passar despercebido, mas que faz todo sentido na resolução da sequência.
A inteligência visual, esta preocupação de esteta dedicado. As ousadias narrativas, um estilo que diretores norte-americanos copiaram, com o devido crédito apenas depois do falecimento dele, com a desculpa clássica de que prestavam uma homenagem.