Tempo (Old – 2021)
Quando uma família (Gael Garcia Bernal, Vicky Krieps, Nolan River e Alexa Swinton) em férias de verão viajam até uma praia isolada, o dia de relaxamento se transforma em um pesadelo ao perceberam que as poucas horas estão fazendo eles envelhecerem rapidamente…
O roteirista/diretor indiano M. Night Shyamalan chamou a atenção do mundo com “O Sexto Sentido” (1999), entregou ótimos trabalhos nos anos posteriores, “Corpo Fechado” (2000), o profético “A Vila” (2004), “A Visita” (2015) e “Fragmentado” (2016), mas também entregou alguns projetos bastante problemáticos, como “A Dama na Água” (2006), “Fim dos Tempos” (2008), “O Último Mestre do Ar” (2010) e “Depois da Terra” (2013), logo, a expectativa no caso dele é algo mais prejudicial do que o normal, o público se revolta quando não há reviravolta narrativa, ou quando ela é fraca, como ocorreu em “Sinais” (2002), ele acabou se escravizando neste recurso, quando, na realidade, o elemento que ele melhor trabalha nas tramas é a simbologia alegórica.
“Tempo” adapta uma revista em quadrinhos francesa, “Castelo de Areia”, de Pierre Oscar Levy e Frederik Peeters, explorando no terceiro ato as possibilidades deixadas ao final da história, logo, não é um exercício plenamente autoral de Shyamalan, ele não se mostra tão seguro, o conceito teoricamente é intensamente criativo, o trailer vende bem este viés existencialista, mas o resultado é sensorialmente prejudicado pela execução.
Vale destacar, porém, que, assim como “A Vila”, esta nova incursão provavelmente será tida no futuro como profética, já que, timing perfeito, aborda em seu mistério final algo diretamente relacionado com o que estamos vivendo no mundo com o experimento de engenharia social. Só por esta coragem, Shyamalan já merece crédito.
A cena inicial remete inteligentemente à abertura da série “A Ilha da Fantasia”, evidenciando o leitmotiv da teatralidade, os funcionários exageradamente formais recepcionando os visitantes transmitem bem o senso de estranheza, mas o primeiro ato não flui muito bem, a apresentação dos personagens abusa dos diálogos expositivos, entre outros clichês nada orgânicos, o ritmo só engata quando o roteiro se afasta do material original.
Alguns furos na lógica apresentada incomodam, enfraquecem a suspensão de descrença, problema que poderia ser contornado se os personagens conquistassem o público, algo que não acontece, o espectador luta para se importar com as figuras na tela grande, e, vale ressaltar, não é somente uma questão de carisma, o texto que eles defendem é raso, nunca foi um ponto forte do diretor.
“Tempo”, apesar de imperfeito, incita reflexões existencialmente importantes.
Cotação:
- O filme estreia neste final de semana nas salas de cinema brasileiras, pesquise no Google para ver se será exibido no seu bairro.