Cry Macho – O Caminho Para Redenção (Cry Macho – 2021)
Um antigo astro (Clint Eastwood) do rodeio, desesperado por trabalho, aceita escoltar o filho (Eduardo Minett) de um ex-patrão do México até os EUA. Forçados a usar caminhos alternativos, os dois acabam construindo um elo inesperado.
O mestre Clint Eastwood retorna neste belo filme, roteirizado pelo competente Nick Schenk (de “Gran Torino” e “A Mula”), que adapta o livro homônimo de N. Richard Nash, lançado em 1975. O projeto já havia passado pela sua mão em 1988, mas na época ele optou por repetir o papel de Harry Callahan em “Dirty Harry na Lista Negra”, um gesto de gratidão do ator com o estúdio Warner, que havia financiado “Bird”, seu sonho como cineasta, conscientemente pouco comercial.
A maturidade emocional do artista, aos 91 anos de idade, inestimável lenda viva da sétima arte, colabora com a sensibilidade do material original, captada com elegância na fotografia do britânico Ben Davis, a obra definitivamente veio no momento certo.
Um dos acertos logo de início é preencher rapidamente as lacunas sobre o passado do protagonista, utilizando um travelling para mostrar, emolduradas na parede, páginas de jornais e fotos antigas, informando o suficiente ao público, recurso similar ao utilizado brilhantemente por Hitchcock, na apresentação do personagem de James Stewart em “Janela Indiscreta”.
O artifício funciona também em sua simbologia, evidenciando que ele está preso às memórias, estado de espírito (motivado pelo acidente outrora) que o embruteceu ao longo dos anos, algo que se apresenta claramente no momento em que é confrontado com o pedido de ajuda do amigo, quando se vê pressionado, por uma dívida de honra, a abandonar o comportamento contemplativo e correr riscos.
A trama é simples, a estrutura debruçada no sentimentalismo é coerente ao período menos cínico em que o livro foi lançado, elemento que alguns colegas críticos equivocadamente ressaltam como algo negativo, talvez, desacostumados com filmes psicologicamente pensados para adultos, ou apenas apedrejam Clint por militância política, mas uma análise honesta enxerga que a execução respeita inteligentemente a proposta, o ritmo lento reflete diretamente a jornada interna/existencial do protagonista em sua missão.
Ao estabelecer contato com o jovem encrenqueiro Rafo e seu galo de briga, Macho, o atrito é causado inconscientemente por reconhecer naquela atitude desafiadora a essência de seus áureos dias de rodeios, impulso que abandonou pelos motivos errados, por medo. O encantador senso de humor gradativamente firma os pés no terreno instável, enquanto a dupla se permite compartilhar fragilidades envernizadas como frivolidades, sequências tranquilas movidas por longos papos aparentemente triviais, mas que representam o terremoto causado pelo choque entre duas personalidades fortes que, em seus íntimos, desejam fazer as pazes com seus reflexos no espelho da vida.
O homem busca reencontrar o sangue nos olhos de quando era menino, o menino tenta substituir a infantilizada bravata vazia pelas ações maduras, leia-se, busca ser homem. E, bonito toque que engrandece o resultado, o ensinamento para os dois é, utilizando o galo de briga como leitmotiv, que a real valentia não se exibe em espetáculos, ela opera na serena constatação de que não há respostas para tudo e, principalmente, que errar é um pedágio fundamental na estrada do autoconhecimento, um tapa com luva de pelica na asquerosa “cultura do cancelamento”. Clint, aos 91 anos de idade, demonstra ser ainda o homem mais corajoso na indústria norte-americana.
Cotação:
- A obra acaba de estrear nas salas de cinema, mas não avalize a grotesca segregação pelo “passaporte sanitário”, você já encontra gratuitamente o filme com extrema facilidade na internet. No jogo da vida, escolha sempre ser o judeu, nunca o nazista.