Rei dos Reis (The King of Kings – 1927)
Depois de expulsar o pecado de Maria Madalena (Jacqueline Logan) e ressuscitar Lázaro (Kenneth Thomson) dos mortos, Jesus (H.B. Warner) entra em Jerusalém, onde Judas (Joseph Schildkraut) conspira que ele seja entregue às autoridades.
Eu gosto bastante da refilmagem dirigida por Nicholas Ray, lançada em 1961, mas ela não entrega cenas tão lindas como estas que selecionei para este texto. A segunda parte da trilogia bíblica do diretor Cecil B. DeMille, iniciada com “Os Dez Mandamentos” (1923) e concluída com “O Sinal da Cruz” (1932), segue surpreendentemente eficiente e cativante nos dias de hoje, apesar da longa duração.
A sequência de abertura e a ressurreição foram filmadas em pioneiro Technicolor de duas cores, recurso que engrandece o senso de espetáculo. A opção por se manter fiel ao Novo Testamento, utilizando nos intertítulos trechos retirados diretamente da Bíblia, não limitou a criatividade dos realizadores, que injetam adorável senso de humor e soluções simbolicamente elegantes para as passagens.
1 – Apresentação de Jesus
O maior acerto da obra é trabalhar bem a expectativa com relação à entrada de Jesus na trama, prova inegável da competência de DeMille como contador de histórias. O filme dedica tempo generoso mostrando o luxo e os exageros mundanos, depois introduz todos os discípulos, até que vemos uma criança feliz por ter sido curada, jogando longe sua bengala, vemos então outra, por volta da mesma idade, que não enxerga, tateando seu caminho buscando Jesus. O pequeno encontra Maria, que, tocada pela sua pureza, conduz seus passos na direção do filho. O toque mais bonito, nós, o público, temos este primeiro contato através dos olhos curados da criança, algo que ocorre somente por volta dos 20 minutos. A luz, forte a princípio, vai enfraquecendo, até que o rosto de Jesus, em expressão de ternura e acolhimento, preenche a tela.
2 – Expulsando os pecados de Maria Madalena
A cena utiliza um excelente efeito ótico de dupla exposição que se tornaria frequente no gênero do terror, mostrando os sete pecados capitais personificados sendo retirados do corpo de Maria Madalena. O momento é eficiente exatamente porque, segundos antes, vemos a personagem esbarrando em Judas (interpretado brilhantemente por Joseph Schildkraut), seu interesse romântico na trama, alguém tomado pela vaidade, oportunista, que, nesta versão da história, enxerga seu mentor como uma ponte para seus objetivos pessoais de poder e glória.
3 – “Vinde a mim as criancinhas…”
Jesus escuta o pedido da criança com os olhos marejados, ela entrega seu boneco de madeira sem perna. A pequena entende que, se ele cura tantas pernas quebradas, com certeza vai conseguir resolver seu problema. Ele pensa um pouco, olha para seus discípulos visivelmente emocionados, e, como um carpinteiro, encontra uma maneira prática de prender novamente a perna ao corpo do brinquedo. O ensinamento é claro, a bondade não necessita do sobrenatural, com seu gesto, ele surpreendeu até mesmo seus discípulos, reforçando que a essência do que ele pregava estava além de qualquer demonstração mágica.
Assista esta obra em família, leia para os pequenos os intertítulos, transmita aos seus filhos a sua bela mensagem, proteja-os do mal ditatorial que avança no mundo.
- Você encontra facilmente o filme na internet, até no Youtube.