007 – Sem Tempo Para Morrer (No Time to Die – 2021)
Bond deixou o serviço ativo e está desfrutando de uma vida tranquila na Jamaica. Sua paz não dura muito quando seu velho amigo Felix Leiter, da CIA, aparece pedindo ajuda. A missão de resgatar um cientista sequestrado acaba sendo muito mais traiçoeira do que o esperado, levando Bond à trilha de um vilão misterioso armado com nova tecnologia perigosa.
- AVISO IMPORTANTE: A CRÍTICA TERÁ SPOILERS.
Se você, como eu, é apaixonado pela franquia iniciada em 1962, com “007 Contra o Satânico Dr. No”, alguém que estudou o tema, colecionou tudo sobre a criação literária de Ian Fleming desde a época do VHS, o tipo de fã que comprou livros sobre os bastidores das produções e sabe os nomes de todos os personagens coadjuvantes dos 24 filmes, provavelmente vai sair da sessão de “007 – Sem Tempo Para Morrer” profundamente decepcionado, se sentindo pessoalmente ofendido, claro, com toda razão.
Não me refiro aos aspectos técnicos, você enxerga na tela o orçamento generoso sendo utilizado, o elenco entrega atuações competentes, mas não se trata apenas de mais uma obra de aventura despejada nas salas de cinema, a análise não pode se desviar dos erros gravíssimos cometidos e que denotam desprezo total por tudo o que foi construído nestes quase 60 anos, o trabalho hercúleo das equipes envolvidas em todos os projetos, o precioso legado artístico. Há uma cena que sintetiza bem esta atitude deselegante, vemos a personagem de Lashana Lynch, que substituiu James Bond na trama como 007, DEVOLVER a função em certo momento. O argumento que conclui a cena é dito em tom de deboche: “É só um número.”
Como assim? Definitivamente NÃO é só um número, fico impressionado em ver que a filha do idealizador da franquia, o saudoso Albert ‘Cubby’ Broccoli, Barbara, que está no comando desde “007 Contra Goldeneye” (1995), ao lado do meio-irmão Michael G. Wilson, permitiu algo tão fundamentalmente errado e que desonra todos os esforços do pai. Ele protegia com a própria vida este legado, quem estuda o tema sabe os desafios que ele enfrentou para manter este “filho” voando alto nas bilheterias mundiais. O mais triste é entender que não há nada orgânico nas escolhas equivocadas do novo produto, ele é parte da agenda de destruição de símbolos na guerra cultural, um processo consciente que objetiva tornar irrelevante todo herói masculino que não seja politicamente correto.
A tradicional abertura com o cano da arma SEM sangue escorrendo na tela, o foco que é dado na sequência pré-créditos à traumática história de vida da namorada (Léa Seydoux) de Bond, a música-tema extremamente depressiva da Billie Eilish emoldurando imagens pouco inspiradas que evidenciam a tentativa de destruir as características visuais de 007, e, mais que isto, reforçar que são relíquias sem valor perdidas no tempo.
O roteiro é cheio de furos, principalmente na segunda metade, parece ter sido modificado várias vezes durante as filmagens, o vilão (Rami Malek) é imperdoavelmente insosso, o seu plano é confuso, mas, dentre os absurdos, vale salientar a inserção de uma filha no caminho do agente secreto. Sim, o personagem que Ian Fleming criou na literatura como extravasamento de sua libido após o casamento, vira um homem de família com uma filha pequena, que chega a se humilhar diante do inimigo para proteger a menina. É mais que desconstrução, releituras criativas PRECISAM respeitar a essência do material original.
Infelizmente, eu poderia ficar aqui destacando por horas todos os pontos negativos, mas vou citar o erro mais grave que os produtores cometeram, algo que vai contra tudo o que a franquia representa: James Bond MORRE. E, vale ressaltar, de forma patética, remete ao dramalhão bobo de novelas mexicanas.
Os filmes de 007 sempre foram espetáculos grandiosos, divertidos, escapismo de altíssima qualidade, sem compromisso algum com a realidade, um show de talentos na elaboração de sequências de ação embasbacantes, até mesmo o drama é calculado, a intenção é fazer o público voltar para casa feliz, empolgado, querendo pagar novamente o ingresso. Quem sai de “007 – Sem Tempo Para Morrer” defendendo que é um bom filme simplesmente não entende nada sobre o tema, provavelmente só viu os projetos da era Daniel Craig, em suma, como já está se tornando comum na indústria, os engravatados, no desespero para cumprir a agenda, buscam satisfazer o público que não valoriza, não consome, aquele produto.
É uma experiência apática, sem alma, depressiva, inchada (quase 3 horas, duração longa que não se justifica), tremendamente insegura e que não esconde sentir vergonha de tudo o que o personagem representa, mas isto já havia sido sinalizado pelo próprio diretor, Cary Fukunaga, que apareceu nas manchetes recentemente defendendo que o 007 de Sean Connery era um “abusador” de mulheres, demonstrando, acima de tudo, desonestidade intelectual.
Não há como reparar o estrago, o personagem foi descaracterizado em sua essência, eliminado, literalmente explodido, a agenda foi cumprida com frieza cirúrgica. Os fãs, que sempre foram respeitados pelos realizadores da franquia, agora estão abandonados na estrada, mas podem guardar com carinho as memórias, rever as aventuras anteriores, aplaudir os esforços de Sean Connery, George Lazenby, Roger Moore, Timothy Dalton e Pierce Brosnan.
Uma história de muito sucesso, que encantou gerações por décadas, mas que teve um amargo fim. Parabéns aos envolvidos, destruir uma franquia tão sólida, tão estabelecida no inconsciente coletivo, não é algo fácil.
Cotação:
- A obra acaba de estrear nas salas de cinema, mas não avalize a grotesca segregação pelo “passaporte sanitário”, você já encontra gratuitamente o filme com extrema facilidade na internet. No jogo da vida, escolha sempre ser o judeu, nunca o nazista.
Que crítica bem feita! E que decepção este filme!
O pior filme da franquia. Enterraram um mítico personagem de mais de sessenta anos de sucesso. Para mim, a série 007 está acabada! Um vilão ridículo, desnecessário e para lá de caricato, beirando ao risível. Penso que este filme deveria ser esquecido. A saída de Craig, sua despedida, já havia sido subentendida em SPECTRE, com o retorno da Organização, comandada pelo famigerado BLOFELD (Aliás muito bem vindo Christopher Waltz). A partir desse ponto um novo ator entraria no papel.
Excelente sua crítica, especialmente no que se refere ao “aggiornamento” cultural forçado.
Só lamento que tenho visto pouquíssimas resenhas/criticas como essa na mídia. Esse filme deve ser boicotado por todo fã real de James Bond, eu mesmo resolvi nunca assistir, e nem adianta quem viu e gostou vir argumentar comigo o contrário, pois praticamente cuspiram nos túmulos de Ian Fleming e Albert Broccoli com esse filme. Torço desde já para ser um fracasso que mal se pague nas bilheterias.
Lamentavelmente acabaram com uma franquia que ainda renderia milhões de dolares.
O que será que vão idealizar agora? Uma mulher no papel de 007 ou um homosexual para ser “politicanente correto”? Odeio o “politicamente correto”!
Li críticas elogiando o filme pelo fato dele acabar com o lado de “macho alfa” de Bond ou de que a “guerra fria” acabara, razão pela qual não “há mais espaço para o personagem”. Como é possível idealizar um raciocínio tão esdrúxulo?
James Bond, o 007, marcou minha infância, adolescência, juventude e maturidade. Simplesmente não aceito tamanha burrice dos donos dessa “marca”.
Tive que me esforçar para me manter acordado no filme, foi realmente patético!