Ataque dos Cães (The Power of The Dog – 2021)
Um fazendeiro (Benedict Cumberbatch) durão trava uma guerra de ameaças contra a nova esposa (Kirsten Dunst) do irmão (Jesse Plemons) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) adolescente, até que antigos segredos vêm à tona.
A diretora neozelandesa Jane Campion é um ponto fora da curva na indústria, ela não se curva à postura vitimista “progressista” que hoje domina Hollywood, seu talento se impõe sozinho, sem necessidade de rótulos ou bandeiras politiqueiras, um olhar corajosamente autoral que conquistou a atenção do público mundial em 1993, com o excelente “O Piano”, talvez a obra mais instigante (em todos os sentidos) já realizada sobre as complexidades do desejo humano. Ela retorna, após 12 longos anos afastada do cinema, entregando simplesmente um dos melhores filmes do ano.
O ritmo é lento, o primeiro ato é intensamente contemplativo, o foco na abordagem psicológica dos personagens pode afastar aqueles que equivocadamente aguardam um faroeste clássico, mas todos que conhecem o livro homônimo original, de Thomas Savage, e a obra da diretora, já sabem que é uma jornada densa, muitos pontos na trama só satisfazem plenamente em revisão (algo a ser celebrado), a catarse é internamente impactante, o efeito da sensacional conclusão se mantém na mente por horas, incita a discussão, em suma, “Ataque dos Cães” é daqueles raríssimos filmes modernos que não são esquecidos minutos depois da sessão, ele, de fato, não termina, parece verdadeiramente iniciar enquanto o espectador reflete sobre a trama. E, creia-me, quanto menos você souber sobre ela, melhor será a experiência.
O elenco está afinado no mesmo diapasão, sóbrio, destaco o brilhantismo de Cumberbatch em captar as nuances do personagem, sensivelmente evitando as armadilhas fáceis de atuação em algumas cenas, acreditando na inteligência do público em montar as peças do quebra-cabeça ao final e captar o seu simbolismo, atitude coerente à proposta da diretora, apesar de ser um produto mainstream disponibilizado na plataforma de streaming mais popular, Campion não fez concessões mercadológicas.
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