O Veredicto (The Verdict – 1982)
Frank Galvin (Paul Newman), um advogado alcoólatra, tem uma chance de se redimir quando um amigo lhe passa um caso de erro médico que foi reaberto. Em vez de se contentar com um acordo, ele decide levar o poderoso réu a julgamento.
O meu primeiro contato com a obra foi na infância, não com o filme, mas sim, com o livro original de Barry Reed, na edição de bolso da série “Campeões de Bilheteria”, lançado pela editora Nova Cultural.
Eu gostei tanto da história que devorei em alguns dias, levava na mochila para ler na hora do recreio da escola, para o usual espanto das professoras, acostumadas com o desprezo dos meus colegas por aqueles livros fininhos com mais ilustrações do que textos.
Tempos depois, após caçar o filme com meu pai em várias locadoras de vídeo, sem sucesso, acabou sendo exibido na TV, durante a madrugada, conseguimos gravar, hoje tenho em DVD e, claro, preservo com carinho o livro.
O advogado veterano em busca de uma causa para lutar, afundado na frustração existencial que é aliviada de forma imediatista pelo álcool.
Ele é apresentado ao público visitando velórios e, com notório desconforto, oferecendo seus serviços às viúvas, desperdiça seu tempo contando anedotas à estranhos em bares, compensando a carência da teatralidade inerente à execução de sua profissão com a pífia atenção que recebe de sua modesta plateia, mas, como Newman evidencia em sua impecável entrega, as risadas não satisfazem nem mesmo este desejo tão patético.
Ele retorna para seu escritório cambaleante, internamente destroçado, humilhado por ter sido expulso de um velório por um dos parentes do falecido, quebra a moldura em que seu diploma é exposto, avança sobre os móveis com fúria, a sua mente está no limite.
Neste momento, o mestre Sidney Lumet compõe imageticamente uma linda e elegante simbologia que terá seu significado potencializado no segundo ato: Newman sentado, aparentemente inconsciente, a posição do corpo diretamente indicando o apelo final de um desesperado, e, no fundo do cenário, próximo ao rosto dele, um crucifixo na parede.
Na cena, sem cortes, a ajuda chega na figura do personagem vivido por Jack Warden, seu antigo amigo e professor, que irrompe no ambiente e carrega seu corpo até o sofá.
Ao enxergar naquela alma perdida traços do homem corajoso de outrora, ele entrega em suas mãos trêmulas um caso de criminosa negligência médica. Uma jovem anestesiada durante o parto que engasgou com o vômito e foi privada de oxigênio.
A vítima em coma, os médicos e o sacerdote responsável pelo hospital seguros de que, pagando bem, conseguirão se safar impunemente, alguns familiares da jovem, gananciosos e de péssimo caráter, dispostos à inglória negociação, demonstrando contentamento com uma considerável quantia financeira, mas o advogado, revivido pelo desafio que se posiciona em seu caminho, simplesmente se recusa a vender a dignidade da cliente.
Ele, um homem de fé, católico, visivelmente abatido, envergonhado, ao perceber que o sacerdote, agindo contra tudo o que diz representar, intenciona friamente esconder completamente da opinião pública o que aconteceu, pergunta com um fiapo de voz: “E ninguém saberá a verdade?”
A sua força de caráter, apesar de todos os baques sofridos nos últimos anos, apesar do vício e da autocomiseração, não consegue acreditar nas barbaridades que escuta, caso virasse as costas para seus princípios naquele momento, como o próprio afirma, ele se tornaria um advogado muito rico, porém, medíocre.
“O Veredicto” é um dos filmes mais importantes da década de 80, merece ser redescoberto, quem sabe não ajude a relembrar a massa sobre a necessidade de se viver cada dia de sua vida com brio e tenacidade.
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Ainda não vi esse, mas lembro que passou no Supercine. Filmes de tribunal são sempre um show à parte, como O Cliente, Acusados, Tempo de Matar, As Duas Faces de um Crime e outros.