O Massacre da Serra Elétrica – O Retorno de Leatherface (Texas Chainsaw Massacre – 2022)
Quando uma viagem de negócios leva uma jovem, sua irmã mais nova e seus amigos idealistas pelas estradas do Texas, elas precisam sobreviver a um encontro fatal com o Leatherface.
O clássico de 1974 foi um fenômeno, um dos melhores filmes de terror de todos os tempos, uma aula impecável de construção de clima com baixíssimo orçamento. A atitude era direta, crua, sem alívios cômicos, imprevisível, um tom documental que transbordava realismo, em meu primeiro contato com a obra, na infância, em VHS, tive a nítida impressão de que estava diante de alguma filmagem proibida, aquela cena da jovem sendo psicologicamente torturada pela família de psicopatas foi uma das responsáveis por eu me tornar um estudioso fã do gênero.
O segundo, dirigido pelo mesmo Tobe Hooper, lançado em 1986, consciente de que seria pouco inteligente tentar repetir a mágica daquele momento, já transforma tudo em galhofa, proposta abraçada carinhosamente pelo protagonista, Dennis Hopper. O terceiro, lançado em 1990, tenta se levar a sério, uma grande bobagem dirigida por um inexpressivo Jeff Burr. E, para piorar, tentaram novamente em 1995, um esforço que só é lembrado por ter no elenco nomes como Renée Zellweger e Matthew McConaughey, o resultado falha em equilibrar o humor involuntário e a violência.
Nos anos 2000, duas produções reapresentaram Leatherface para a nova geração, apostaram no medo como elemento principal, a primeira, comandada por Marcus Nispel, acabou se saindo melhor, mas, em revisão, as duas não envelheceram bem. Outras tentativas menores se sucederam, até que o diretor David Blue Garcia, do surpreendente “Tejano” (2018), decidiu retrabalhar o conceito, desconsiderando todas as sequências, prestando direta homenagem ao original, emulando as recentes produções da franquia “Halloween”.
Antes mesmo de assistir, fiquei curioso com a reação dos veículos da imprensa, manchetes nada sutis como “assinantes estão ODIANDO o filme” ativaram o meu alerta vermelho, e, sabendo como funciona o jogo nos bastidores, há um esforço generalizado para manipular a garotada na direção do desprezo, os mesmos colegas jornalistas que aplaudem qualquer patifaria infanto-juvenil com heróis multicoloridos estão avisando que é melhor nem perder tempo vendo este projeto.
É claro que seria muito difícil ele ser equiparado ao clássico, não há esta intenção, nem é esta a proposta, mas também não seria tão difícil ele ser superior às sequências, logo, precisa haver algo mais neste título para incitar tanta raiva nos colegas críticos. Analisando com honestidade intelectual, como fã e crítico, o nível de violência, o gore, intensamente brutal e criativo, por si só, já mereceria alguns pontos positivos, a despretensiosa curta duração também é muito bem-vinda. O resultado não muda o mundo, não reinventa a roda, mas está longe de ser a bomba que está sendo vendida nas manchetes. Ao final da sessão, entendi o motivo da campanha negativa, o roteiro de Chris Thomas Devlin debocha abertamente da agenda “progressista”.
Uma das personagens jovens, vítima traumatizada de uma arma de fogo, que é mostrada inicialmente como ativista pró-desarmamento, aprende na prática que o problema não é o direito à escolha pela defesa pessoal, discussão simplista que serve apenas aos potenciais ditadores que dependem de um povo totalmente indefeso.
Outra cena que escancara de forma ácida esta postura se passa dentro de um ônibus, quando Leatherface encontra um grupo de jovens que bloqueiam seu caminho. Eles apontam para ele seus celulares, registrando o momento em transmissões ao vivo, um deles ameaça: “se você tentar algo, cara, será cancelado!” Claro que, com a bênção do público que já está cansado desta cretina cultura do cancelamento, o medalhão do terror mundial responde da única maneira que ele poderia, forçando sua passagem com a motosserra.
Os cinéfilos mais dedicados vão gostar da presença de Alice Krige, vivendo a figura materna do vilão, presença marcante em pérolas do terror, como “Histórias de Fantasmas” (1981) e “Sonâmbulos” (1992). Marilyn Burns, que viveu a única sobrevivente no original, faleceu em 2014, mas é muito bacana o resgate de sua personagem, vivida agora por Olwen Fouéré, apesar de repetir sem muita inspiração o artifício narrativo que trouxe Jamie Lee Curtis nos recentes projetos da franquia “Halloween”.
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