A Gata e o Rato (Moonlighting – 1985 a 1989)

Após levar um golpe de seu empresário, a modelo Maddie (Cybill Shepherd) perde toda a sua fortuna. Ela acaba cruzando o caminho de David Addison (Bruce Willis), diretor de uma agência de detetives de nome City Angels, e acaba convencendo a moça a trabalhar com ele.

Quando escuto a música-tema, na voz de Al Jarreau, a minha mente é levada rapidamente à infância, lembro bem da sensação de acompanhar os episódios na Globo, do falatório na família quando a emissora, sem qualquer aviso, parou de transmitir por um tempo.

O trabalho impecável da versão brasileira produzida na Herbert Richers merece ser destacado, as vozes dos medalhões Sumára Louise (Maddie), Newton da Matta (Addison) e Maria da Penha (Agnes) são parte fundamental do sucesso da série no país.

Na época sem internet, nosso consumo cultural era ingênuo, não recebíamos informações de fora, o senso comum era de que não havia tido um final na história, logo, alguma tragédia poderia ter acontecido na produção, e, quando voltou a ser exibida em 1990, com tramas cada vez mais malucas e sem a presença do casal protagonista, o público brasileiro, desconhecendo os problemas nos bastidores entre Cybill Shepherd e Bruce Willis durante as duas temporadas finais, estranhava bastante, eu me recordo vividamente de uma tarde de sábado em que, ao término da sessão, até meus pais reclamaram, o argumento era de que a série tinha se perdido, que não havia sentido nas tramas.

devotudoaocinema.com.br - Crítica nostálgica da série "A Gata e o Rato" (1985-1989)

O curioso é que, anos depois, quando revi ela completa em DVD, odiei a curta primeira temporada, narrativamente tradicional, sem personalidade alguma, e aplaudi de pé o brilhantismo na estrutura livre que dominou as temporadas 2, 3, 4 e 5.

Na realidade, creio que o grande diferencial que a tornou atemporal foi exatamente se afastar dos formulaicos roteiros da primeira temporada e dar este abraço apertado na metalinguagem, a ousadia de flertar com vários estilos (musical, pastelão, comédia silenciosa, noir etc.), abusando da qualidade nas referências artísticas que alimentavam as aventuras. Hoje, com esta geração de adultos infantilizados e culturalmente rasteiros, uma série refinada assim seria solenemente desprezada.

Eu me recordo, por exemplo, de um momento do hilário “As Duas Topistos”, protagonizado por Agnes e sua mãe, em que algum personagem avisava que era importante convocar Maddie e Addison para o serviço, no que a adorável Allyce Beasley, sem pensar duas vezes, respondeu: “Eles não estão neste episódio”. Os mistérios eram apenas a desculpa elegante, coadjuvantes na equação, todos sabiam que tudo seria resolvido com charme, a graça estava na forma como os roteiros utilizavam estas convenções na criação de algo inovador que transcendia o entretenimento televisivo do período.

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Esta conversa direta com o público agregava ao carisma transbordante do elenco, tudo era possível, uma aparição de Orson Welles tranquilizando os espectadores para uma transição ao preto e branco, uma grandiosa sequência de dança dirigida por Stanley Donen (de “Cantando na Chuva”), a imaginação de um fã da série tornar realidade uma versão de “A Megera Domada” protagonizada por Maddie e Addinson, uma jornalista de revista de fofoca questionar o elenco sobre a demora na entrega de episódios novos, até mesmo um dos personagens ser chamado nos pré-créditos para cantar a música-tema.

Não havia limite para a criatividade do criador Glenn Gordon Caron, que, vale ressaltar, dirigiu na mesma época também uma pérola injustamente esquecida, “Marcas de Um Passado” (1988), protagonizada por Michael Keaton.

A série sofria pela demora na entrega dos roteiros, o extremo cuidado na preparação se mostrava no resultado final, mas, na indústria televisiva, tempo é dinheiro, um estresse que se intensificou quando o sucesso de Bruce Willis no cinema, com “Duro de Matar”, começou a incomodar o ego da parceira Cybill Shepherd, que havia iniciado gloriosamente na década de 70 em filmes como “A Última Sessão de Cinema” e “Taxi Driver”, mas que, na época do início da série, já não estava em alta, até por causa de seu temperamento difícil.

Willis, que era desconhecido até então, para complicar ainda mais, deixou a fama subir à cabeça. A combinação da dupla era explosiva no aspecto positivo (química na tela) e negativo (brigas homéricas durante as filmagens), no ano final os produtores penaram para encontrar cenas dos dois juntos no mesmo ambiente para preencher alguns episódios.

O importante é que, em revisão para este texto, a série segue eficiente, encantadora, divertida, “A Gata e o Rato” merece ser redescoberta pela nova geração.

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A série não está nas plataformas de streaming, mas você consegue encontrar com facilidade na internet, até mesmo no Youtube, logo, selecionei abaixo os 15 melhores episódios, para facilitar seu garimpo cultural. 

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SEGUNDA TEMPORADA:

Episódio 2 – A Dama da Máscara de Ferro

Uma mulher que não quer mostrar o rosto aparece na agência de Maddie e David. Ela quer que eles encontrem seu ex-amante.

Episódio 4 – A Sequência do Sonho

David e Maddie conhecem o dono de um clube que lhes conta sobre um crime não resolvido. Maddie e David discutem sobre quem eles acham que é o verdadeiro assassino e, em seus sonhos, decidem resolver o caso que ocorreu há 40 anos.

Episódio 7 – Em Algum Lugar Sob o Arco-Íris

Uma garota irlandesa que afirma ser um duende quer contratar a agência de detetives para protegê-la. David está disposto a aceitar o caso, mas Maddie acha que a garota está mentalmente doente e precisa de um psiquiatra, não de uma agência de detetives.

Episódio 10 – O Episódio de Natal

Um criminoso no esquema de proteção a testemunhas é eliminado, mas sua esposa e bebê conseguem escapar. Ao fugir, o bebê é deixado no apartamento de Agnes sem nenhuma explicação. Maddie e Addison decidem tentar encontrar a mãe.

Episódio 13 – É de Deus Que Suspeitamos

Um mágico não consegue escapar de seu arriscado truque. A viúva vai até a agência pedindo proteção, porque seu marido ameaçou voltar e eliminá-la após sua morte.

TERCEIRA TEMPORADA:

Episódio 6 – O Grande Segredo

David descobre que seu ex-cunhado acaba de falecer. Maddie está chocada ao saber que David foi casado. Ela fica muito curiosa sobre sua ex-esposa e o segue até Nova York, onde descobre algumas informações surpreendentes.

Episódio 7 – A Megera Domada

Um aluno apaixonado pela série, após ser lembrado pela mãe de que precisa ler “A Megera Domada” para a escola, acaba imaginando os personagens de “A Gata e o Rato” encenando a peça.

Episódio 9 – Encrenca em Profusão

Depois de muito tempo sem nenhum episódio novo, Rona Barrett, uma repórter de revista de fofoca (famosa na época), vai averiguar nos bastidores da série se há algum problema.

Episódio 10 – Agnes e o Poltergeist

Agnes está na Blue Moon há cinco anos e está chateada por Herbert já estar trabalhando em um caso depois de apenas três meses. Para provar a si mesma e sem dizer a eles, Agnes assume um caso que Maddie e David se recusam a fazer.

Episódio 14 – Estou Curioso, Maddie

A batalha entre Sam e David continua e se torna séria quando Sam pede Maddie em casamento. Ela é evasiva com sua resposta, mas força David a pensar em como ele se sente sobre Maddie. Sam e David acabam brigando.

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QUARTA TEMPORADA:

Episódio 2 – Volte, Minha Querida

David acha que a noite anterior correu bem, sem saber que Maddie deixou a cidade. Um cliente chega na agência e quer que eles encontrem uma mulher particularmente bonita que ele viu em um baile de caridade. A única pista é um valioso brinco deixado para trás.

Episódio 7 – O Pai, o Último a Saber

Maddie começa a ter enjoos matinais. Os móveis são recuperados e os funcionários estão se rebelando porque não foram pagos. O pai de Maddie se encontra com David e eles resolvem suas diferenças.

Episódio 8 – As Duas Topistos

No retorno da mãe de Agnes de férias no México, joias roubadas são plantadas nela para serem contrabandeadas de volta para a América. O criminoso quer suas joias de volta e, com David e Maddie longe, cabe à dupla Agnes e Herbert resolver a situação.

QUINTA TEMPORADA:

Episódio 1 – Um Útero Com Vista

No útero, o bebê de Maddie recebe uma introdução à sua vida futura. Ele decide que não está feliz com todas as brigas entre Maddie e David.

Episódio 13 – Eclipse Lunar

Episódio final. Agnes propõe casamento a Herbert e ele concorda, embora tenha algumas dúvidas. O marido de Annie, Mark, aparece e joga uma chave inglesa na vida de David. Ele contrata um detetive para seguir Annie. David conspira para fazer Annie voltar para o marido.

Cotação: devotudoaocinema.com.br - Crítica nostálgica da série "A Gata e o Rato" (1985-1989)



Viva você também este sonho...

2 COMENTÁRIOS

  1. Alô! Sou Anderson Dideco, a “pessoa” por trás da página Diário de Bardo q, eventualmente, reage e comenta, no Facebook aos seus excelentes posts. Queria agradecer por essa indicação. Ontem, aproveitei e segui a sua sugestão: resolvi “maratonar” esses episódios por vc indicados. Consegui assistir, na ordem, aos sete primeiros, e foi uma experiência mto bacana, tto por rever essa série d q eu tb sentia saudades, qto por assistir, pela primeira vez (ou pq a memória me traía, rs) a alguns episódios d q eu ou não tinha msm visto ou já nem me lembrava. Não consegui alcançar o episódio das Duas Topistos, q me despertou mta curiosidade, mas teve momentos inesquecíveis, e um pouco d td o q vc comentou: máscara d ferro, Orson Welles e sequências em preto e branco (sabe dizer se a Cybil canta msm nessas cenas ou se foi “dublada”?, pois li q ela iniciou como cantora…), leprechaun, presépio, mágicos e legistas, ex esposa d David, e (o meu preferido, até agora), um “Shakespeare atômico”, rsrs. Fiquei avaliando a série, como um todo, e vi q a atuação d Cybill Shepperd é mto boa. Foi injusto ela ter sido meio q “ofuscada” pela súbita ascensão d Bruce Willis. Mas li q a carreira dela, na tevê, teve (ops!) uma sobrevida interessante. E a atriz q faz a Agnes é um gde achado! Qto à importância da dublagem, vc tem toda razão: foi fundamental p o sucesso no Brasil. Aliás, esses profissionais precisam ser cada vbez mais valorizados. A dublagem brsileira é d primeira linha! Até hj não tem como imaginar, p ex, o Casal 20, s “ouvir” a voz d seus dubladores, d memória (aquela mesma q me trai, às vezes, rs)… Procê ver, rs. Gde abç e, mais uma vez, parabéns pelo seu trabalho.

  2. Excelente post. Na infância essa era umas das séries que assisti quando exibida na plim-plim lá pro fim da década 80s, mas não faço ideia quais temporadas foram transmitidas. Quase todos estão carecas de saber que a série alavancou Bruce Willis, antes do Duro de Matar.

    Inclusive, é quase impossivel não lembrar de Bruce sem a voz icônica do Newton da Matta. A extinta Herbert Richers fez um trabalho pioneiro com grandes dubladores como Marcio Seixas, o já falecido André Filho, Orlando Drummond, etc, um estúdio que deve servir de inspiração para quem atua na área da dublagem. Alias, a arte da dublagem é bem democrática porque a pessoa pode ser desprovida de beleza externa, e mesmo assim ‘participar’ dos filmes. Isso é fantástico.

    Algo dificil de compreender é sobre o tal ‘desentendimento’ entre Bruce e a Cybill Shepherd. Eles formavam uma dupla tão adorável nas telas, mas nos bastidores algo deve ter ocorrido. Seria a Cybill uma bela mimadinha? e o Bruce com seu senso de humor tipico, colocava lenha na fogueira? Dificil saber quem iniciou mas sabe como é? Fãs de filmes sempre tem curiosidade de bastidores do cinema, Hollywood, etc. 🎥🎞️📽️O fato é que a série rendeu bastante, foram cinco temporadas.

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