Top Gun: Maverick (2022)
Depois de mais de 30 anos de serviço como um dos principais aviadores da Marinha, Pete “Maverick” Mitchell (Tom Cruise) está de volta, rompendo os limites como um piloto de testes corajoso. No mundo contemporâneo das guerras tecnológicas, Maverick enfrenta drones e prova que o fator humano ainda é essencial.
A imprensa norte-americana, num deslize freudiano, está utilizando nas chamadas a frase “o último astro do cinema”, fazendo coro com o que o próprio Maverick escuta em cena, ele é tido inicialmente por seu superior como parte de uma raça em extinção, Cruise sabe muito bem o que a patota “progressista” está pretendendo, destruir Hollywood de dentro para fora, humilhar os símbolos de coragem de outrora, substituir sem pompa o que eles chamam de “machos tóxicos” (alguns textos norte-americanos, sem brincadeira, utilizam como argumento negativo: “o filme é hétero demais”), atitude que é aplaudida por adultos infantilizados e uma garotada de mente vazia, existencialmente rasa e confusa em todos os sentidos.
O cinéfilo criterioso, dedicado, já está cansado das tentativas óbvias de transformar o cinema em muleta, ferramenta imediatista para avalizar os discursos de uma torta agenda política, Cruise, um apaixonado por esta arte desde sempre, alguém que respeita o público, entrega com “Top Gun: Maverick” uma resposta elegante e audaciosa, arriscando-se, como seu personagem, na zona de perigo, utilizando o universo da aviação como metáfora, da mesma forma que o pugilismo na franquia “Rocky”, para discutir vários conceitos que estão fora de moda, como a beleza do trabalho em equipe, a importância da honra e a valorização do mérito.
A direção é de Joseph Kosinski, mas, não dá para negar, sentimos sem sombra de dúvida que Cruise está no total controle criativo, e, conhecendo os bastidores da indústria hoje, ele deve ter lutado muito para manter a integridade da trama, sem se corromper com as pautas que parecem dominar o entretenimento atual.
Sério, eu consigo imaginar os executivos reclamando enfaticamente: “Um elenco só com pessoas bonitas? Não há cena instigando conflito racial? Não há uma cena com inclusão LGBTQIA+? E, pior, não vende que o que é velho precisa morrer para dar lugar ao novo?” Pois é, chegamos ao ponto em que sentar na sala escura e assistir a um filme que se importe apenas em contar de forma competente uma boa história faz escorrer lágrimas no rosto de pura gratidão.
O núcleo composto pela turma de jovens aviadores não está lá para narrativamente empurrar Maverick para um papel secundário, talvez até provar como ele é irrelevante, esquisito, dispensável, estratégia deselegante comum em produções como o recente “007 – Sem Tempo Para Morrer” e a trilogia de “Star Wars” da Disney, não, muito pelo contrário, a equipe de, com algumas exceções, rostos desconhecidos, presencia a celebração daquele que foi o responsável por tudo, o cara que, com seu carisma e talento, arrastou multidões aos cinemas desde a década de 80. É assim que se faz, conservar é amar, a arte deve ser sempre colocada em primeiro lugar na equação de uma produção.
Vale ressaltar a forma brilhante como inserem trechos em flashback do filme original, sem pesar a mão no melodrama, impedindo que soem como artifícios gratuitos.
E, neste sentido, que linda homenagem é prestada ao ator Val Kilmer, que viveu o Iceman em 1986, mas que sofre com um agressivo câncer de garganta (recomendo que assistam ao maravilhoso documentário “Val”, que, inclusive, entrou em minha lista de Melhores Filmes de 2021), fisicamente fragilizado e impedido de falar normalmente.
Cruise honrou a promessa de que não faria este filme sem uma participação dele, encontrando uma maneira muito bonita de presentear os fãs com este reencontro. Até mesmo o saudoso Tony Scott, diretor do original, recebe atenção nos créditos finais, gesto louvável.
O filme é um espetáculo embasbacante, ágil, inteligente, com timing perfeito nos alívios cômicos, um roteiro, escrito por Ehren Kruger, Eric Warren Singer e Christopher McQuarrie, baseado em história de Peter Craig e Justin Marks, que presta emotiva reverência ao fãs antigos, protagonizado por um artista que verdadeiramente ama o que faz, e, principalmente, que sabe da urgente necessidade das mensagens que a obra transmite nestes tempos grotescos em que vivemos.
Cotação:
- A obra acaba de estrear nas salas de cinema, mas, caso a sua esteja exigindo, não avalize a grotesca segregação pelo “passaporte sanitário”. Aguarde, em muitas cidades já acabou esta palhaçada vergonhosa. No jogo da vida, escolha sempre ser o judeu, nunca o nazista.
Até hoje escuto a música e lembro do filme