No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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Escravo de Uma Paixão (A Fool There Was – 1915)
John Schuyler (Edward José) é um diplomata casado que tem a vida arruinada após ser seduzido por uma mulher predadora (Theda Bara).
Hoje em dia já é difícil encontrar um adulto brasileiro que se importe em estudar sobre a era silenciosa do cinema, a garotada então, despreza solenemente, exatamente por este motivo considero tão importante, enquanto profissional da área, estimular a valorização deste período fascinante e fundamental para a sétima arte.
É uma pena que quase todos os filmes na carreira de Theda Bara (Theodosia Burr Goodman) tenham sido perdidos, apenas fragmentos sobreviveram, mas, para a sorte dos cinéfilos dedicados, o melodrama “Escravo de Uma Paixão”, produzido por William Fox e dirigido por Frank Powell, baseado no poema “The Vampire“, de Rudyard Kipling, sobreviveu na íntegra e mostra a atriz, uma das mais populares de seu tempo, conhecida pelo apelido The Vamp (vampira, no sentido da sedução, femme fatale), em seu momento mais glorioso.
A inteligente máquina de propaganda de Hollywood vendia uma persona exótica, uma jovem egípcia que se interessava por ocultismo, o que aumentava o fascínio do público e, por conseguinte, lotava as salas de cinema, mas a realidade era bastante diferente, simples, a norte-americana Theodosia, que, vale ressaltar, nunca pisou no Egito, era filha de um alfaiate judeu, teve um começo profissional sem brilho nos palcos de teatro, até que foi escalada para viver “Cleópatra” (1917), dirigida por J. Gordon Edwards, uma produção que infelizmente se perdeu, mas que, pelas fotos, exibe claramente a forte presença de cena da jovem, que é considerada o primeiro símbolo sexual da história do cinema.
O tom da obra já se estabelece no início, quando somos apresentados à Bara segurando uma rosa, depois arrancando as suas pétalas, até que os espinhos cortam sua mão e, imagine a surpresa do público da época, ela começa a rir admirando o sangue que escorre em seu pulso.
A trama e a execução são problemáticas, mesmo para os padrões do período, mas o carisma da atriz torna a experiência agradável. É um filme, acima de tudo, importante como objeto de estudo.
- Você encontra o filme facilmente garimpando na internet.