No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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Horas de Verão (L’heure d’été – 2008)
Quando uma mulher (Edith Scob) que cuidava das obras do tio, o pintor Paul Berthier, morre, seus dois filhos (Charles Berling e Jérémie Renier) e sua filha (Juliette Binoche) têm que se encontrar e discutir suas diferenças, rever os fatos da infância e as lembranças que partilham.
O roteirista/diretor francês Olivier Assayas entrou no meu radar em 2008 com esta pérola de pura sensibilidade, que consegue tocar num tema muito delicado sem se debruçar demais no melodrama, por conseguinte, o resultado não é depressivo, a obra celebra o amor e a preservação da memória.
O interesse da trama não é tanto aprofundar no desenvolvimento dos personagens, o tom divagante busca tocar no etéreo vácuo sentimental que domina o processo do luto em adultos. Cada filho enxerga de uma maneira diferente a preocupação da mãe com o seu legado. Um, mais emotivo, deseja honrar a sua passagem respeitando ao máximo o que ela havia pedido sobre o destino de seus estimados pertences, os outros dois, práticos e distantes, priorizam neste tocante o aspecto financeiro.
Analisando como alegoria, pode-se traçar paralelo com os rumos do mundo, o conservadorismo apaixonado enfrentando o imediatismo destruidor, e, vale ressaltar, o simbolismo na resposta que o filme oferece no desfecho injeta esperança. Apesar dos esforços dos titereiros do caos em aniquilar os alicerces familiares, queimar o passado, o amor urge pelo reencontro.
- Você encontra o filme garimpando na internet.