Sonhos (Dreams – 1990)
Akira Kurosawa entrega com esta pérola um dos momentos mais bonitos do cinema da década de 90.
Ele, reconhecido por ter uma personalidade extremamente reservada, decidiu que era o momento de compartilhar suas experiências pessoais com seu público, dando vida a uma obra fragmentada, em que cada história contada seria fruto direto de experiências oníricas reais que nunca saíram de sua mente.
O foco, opção estética acertada, ainda que incompreendida pelos meus colegas críticos da época, está no aspecto visual, a fotografia de Takao Saitô e Shôji Ueda busca honrar a proposta do diretor, capturando de forma subjetiva o tom do estado de consciência do sono profundo.
No segmento intitulado “Corvos”, referência à pintura “Campo de Trigo com Corvos”, protagonizado pelo diretor Martin Scorsese, fã confesso do mestre japonês, um estudante de artes, vivido por Akira Terao, representando o próprio Kurosawa, descobre-se, durante uma visita a um museu, dentro do vibrante e, por vezes, caótico mundo dos trabalhos de Vincent van Gogh. O fascínio pela obra do mestre holandês se faz presente de maneira delicada, intensamente bela.
A utilização de Scorsese nesta sequência evidencia que a mensagem do saudoso mestre japonês é sobre criação cinematográfica, ele apenas utiliza a riqueza do universo da pintura como tela para transmitir suas crenças enquanto cineasta apaixonado.
O homem que admira a arte na parede se vê, como que por encanto, levado para dentro da pintura do artista, o momento mágico é embalado pelo Prelúdio No.15, de Chopin, compondo um tipo elegante de cinema que infelizmente se mostra cada vez mais raro.
“Uma cena que parece uma pintura não cria uma pintura. Se você dedicar tempo e olhar com atenção, toda a natureza tem sua própria beleza. Quando esta beleza natural está presente, eu simplesmente me perco nela. E então, como em um sonho, a cena se pinta para mim…”
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