A resposta mais simples? Eu levo a sério demais o cinema, a paixão que sinto por esta arte é algo que conduz meus passos desde a infância, todos que acompanham meu trabalho e conhecem minha história sabem que enxergo o que realizo como uma missão de vida. Eu me preocupo com a formação de um público criterioso, que valorize a preservação da memória cultural. Sem passado, não temos presente nem futuro.
Somente um louco objetivaria ser escritor, crítico de cinema, cineasta independente, ator, roteirista e produtor, as chances são grandes de se passar fome, não é uma carreira que se busca pensando em questões financeiras, perseverar na área artística sendo um pobretão é, trocando em miúdos, pura insanidade. E eu estou me mantendo íntegro nesta missão desde 2008, superando puxadas de tapete, todo tipo de adversidade, oferecendo ao público um material que nasce do profundo amor e respeito que nutro pelos filmes.
O que eu estou enxergando claramente nos últimos anos, principalmente na indústria norte-americana, nada mais é que um esforço de autossabotagem, financiado com interesses óbvios de deslegitimar os alicerces culturais ocidentais, algo que sempre ressalto em textos.
Os roteiros estão cada vez mais infantilizados, verdadeiramente amadores, intensamente tolos, os conceitos criativos sendo utilizados apenas como veículos para empurrar pela goela da massa uma agenda puramente ideológica e comportamental, mentindo para o público pagante, vendendo nostalgia terna e entregando a destruição humilhante de todos os personagens que simbolizavam por décadas a grandeza do cinema enquanto ferramenta de entretenimento.
Eu escrevo estas palavras logo após retornar da sessão da mais nova afronta ao intelecto dos lúcidos, o quinto “Indiana Jones”, mais uma tragédia anunciada. O resultado final é, como quase todas as “grandes estreias” recentes, uma vergonhosa colcha de retalhos, provavelmente a visão original era tão ofensiva nas exibições-teste, que os executivos precisaram refilmar várias possibilidades novas, depois tiveram que suar para tentar fazer com que este Frankenstein fizesse algum sentido, orando para o santo marketing e seus fantoches pagos na imprensa minimizarem o estrago nas bilheterias.
O que escrever sobre produtos que foram inegavelmente pensados sem a mínima consideração pelo elemento mais importante na equação? O público é o patrão neste negócio. E ele está sendo extremamente direto ao expressar repúdio por todas as escolhas que não são motivadas pelo clássico interesse de entregar uma boa história bem contada.
Você quer utilizar os filmes como ferramenta de engenharia social e manipular a massa em qualquer direção? Ok, o cinema sempre foi utilizado também como ferramenta para empurrar agendas, mas faça direito, como gente grande. Se você for bom no que faz, por exemplo, consegue até arrancar lágrimas de um ferrenho ateu celebrando a vida de Jesus. O caso é que a resposta aos projetos dos últimos anos está sendo incrivelmente negativa, eles estão conseguindo destruir a imagem de uma indústria que, pouco tempo atrás, fazia o mundo parar na expectativa do lançamento de um simples trailer.
Perceba como conseguiram em questão de poucos anos jogar no lixo “marcas” que representavam tanto lucro no mundo, como Disney, Star Wars, Indiana Jones, 007, DC, Marvel, entre tantos outros, creia-me, não pode ser algo normal, orgânico, não são decisões equivocadas, isto é um plano que foi executado de forma brilhante. Um esforço que, analisando pela lógica comercial, não pode ser considerado um erro, não há lição a ser aprendida, o que estamos testemunhando boquiabertos é a rápida destruição de uma das expressões mais fortes da cultura ocidental.
Se o público está sendo ignorado por tanto tempo, o financiamento só pode estar sendo “mágico”, com outros interesses, não há lojinha que se sustente por muito tempo tratando mal seus clientes. Como crítico de cinema, como estudioso apaixonado, não posso criticar algo que não é, em essência, cinema.
Algo que é concebido para ser desprezado por aqueles que, em teoria, consumiriam o material, pode ser chamado de qualquer coisa, menos de cinema…