- TEXTO ESCRITO E PUBLICADO ORIGINALMENTE EM SETEMBRO DE 2008, APÓS A NOTÍCIA DO FALECIMENTO DO ATOR, NO EXTINTO SITE “CINEMA”.
Paul Newman era uma unanimidade no tocante a carisma e talento, porém sua vida e suas escolhas nos mostram uma faceta diferente da usual em muitos artistas atuais. O seu amor pela superação pessoal e seu empenho em dignificar seu trabalho o colocam em um patamar acima dos atores de sua geração.
No dia 26 de setembro de 2008, aos oitenta e três anos de idade, o astro Paul Newman se despediu de seus fãs da mesma maneira com que viveu seu tempo entre nós: com classe e dignidade. Após muitos anos dedicados ao vício do cigarro, o seu pulmão não resistiu e um câncer diagnosticado meses antes de sua morte afastou das telas grandes um dos mais icônicos personagens da sétima arte.
Nascido em 26 de Janeiro de 1925, em Ohio nos Estados Unidos, Paul Leonard Newman ingressou muito cedo na renomada escola de artes dramáticas: Actor’s Studio, dirigida por Lee Strasberg.
O seu primeiro papel no cinema foi em 1954, no filme bíblico “O Cálice Sagrado”. Como coadjuvante, foi extremamente crítico com sua própria atuação, que considerou abaixo da média. Tempos depois chegou a publicar um anúncio de página inteira no jornal pedindo desculpas ao público por sua interpretação. Com esta atitude, denota-se que desde cedo demonstrava um forte alicerce moral e senso de humildade.
O ator obteve mais reconhecimento nos filmes seguintes: “Marcado pela Sarjeta” (1956), o ótimo “Gata em Teto de Zinco Quente” (1958), ao lado de uma belíssima Elizabeth Taylor, e “O Mercador de Almas” (1958), acompanhado por astros do porte de Orson Welles, com o qual ganhou o prêmio de melhor ator no festival de Cannes.
Newman passeia pelos anos 60 colecionando ótimos papéis em filmes memoráveis. Junto com o diretor Robert Rossen, trouxe glamour e estilo ao jogo de bilhar com o filme “Desafio à Corrupção”, de 1961. Ele viveu um jovem rebelde em constante conflito com o pai (similar ao personagem de James Dean, em “Juventude Transviada”) no ótimo “O Indomado” (1963) e trabalhou sob o comando do genial Alfred Hitchcock em “Cortina Rasgada”, de 1966.
O seu primeiro grande sucesso veio no fim da década com o hoje clássico “Butch Cassidy”, de 1969. A sua parceria com o astro Robert Redford neste faroeste inovador trouxe-lhe fama internacional.
A cena em que Newman e Katharine Ross passeiam de bicicleta ao som da linda melodia de “Raindrop’s keep fallin’ on my head” composta por Burt Bacharach, entrou para a história do cinema. O sucesso da dupla Newman/Redford foi tão grande que os dois estrelaram outro grande sucesso, sob a batuta do mesmo diretor: George Roy Hill. A produção intitulada “Golpe de Mestre” foi lançada em 1973 e arrebatou vários prêmios, incluindo o cobiçado Oscar de Melhor Filme. No ano seguinte, ele participaria de um grande sucesso de público: “Inferno na Torre”.
A década de 80 foi uma época redentora para o astro, que recebeu seu primeiro Oscar de Melhor Ator em 1986 com o subestimado filme de Martin Scorsese: “A Cor do Dinheiro”, em que dava continuidade à jornada do jogador de bilhar Eddie Felson, do filme de 1961. Ele atuou também no excelente “O Veredicto”, dirigido pelas mãos hábeis de Sidney Lumet, no papel de um advogado em fim de carreira que decide voltar a acreditar em seu talento ao defender uma causa perdida.
Além da arte da atuação, a sua maior paixão era o automobilismo. Newman chegou a ficar em segundo lugar na disputada corrida de 24 Horas de Le Mans. O astro também se envolveu com a Fórmula Indy, tornando-se sócio proprietário da equipe Newman-Haas Racing. Com extrema dedicação, conseguiu aos setenta anos ser o mais velho piloto a vencer as 24 Horas de Daytona, em 1995.
O seu amor por velocidade o levou a ser convidado em 2006 a trabalhar na animação “Carros” da Pixar. Quis o destino que sua despedida das telas acontecesse nesta linda e muito subestimada fábula sobre solidão e sonhos.
A sua bravura manteve-se presente até seus últimos minutos. Newman, após submeter-se a várias sessões de quimioterapia e ter sido informado pelos médicos de que teria pouco tempo de vida, pediu que fosse levado para sua casa em Connecticut, Ohio.
Na companhia de seus familiares e amigos, o eterno Butch Cassidy nos deixou um legado de 54 anos bem vividos na sétima arte, personagens eternos em nossas memórias. Mas, acima de tudo, Newman nos legou sua dignidade, o seu caráter impresso em cada interpretação.
Que aqueles que vierem aprendam, pois astros desta magnitude não nascem todo dia.