O que está acontecendo com o povo brasileiro?
Será que sempre foi assim? Algo que se disfarçava na frequente sinalização pública de virtude? E que, por algum motivo, simplesmente tomou coragem de se exibir orgulhoso em todas as situações?
Eu li em algum lugar que “nada de bom sobrevive ao povo brasileiro”, nunca quis acreditar, lutei para manter vivo o otimismo, afinal, conheço magníficas exceções à regra, pessoas que prezam pelo respeito, generosas, em suma, gente que, como eu sempre repito, honra o sapiens que sucede o homo.
O fato é que a atividade profissional diária de manter a página na rede social me forçou a compreender a irônica frase.
E, nos últimos anos, a situação apenas se intensificou negativamente, parece que a última trava de bons modos, quiçá de bom senso, foi arrancada, não há mais delicadeza, gentileza, não há mais o mínimo esforço em entender, parece até que algo está artificialmente prejudicando o raciocínio lógico e o temperamento da massa. Na realidade, prefiro pensar assim, a ideia de que é uma mudança puramente natural deprime ainda mais, aniquila a criatividade.
A prática de trabalhar de forma independente com cultura (leia-se, depender financeiramente do interesse de outrem pelo autoaprimoramento intelectual) nunca foi fácil neste país, mas se tornou hoje uma atitude verdadeiramente heroica, um sacrifício que poucos valorizam.
Você implora por um mínimo de respeito, várias vezes, explica minuciosamente o procedimento básico que garante ao seu esforço uma simbólica fonte de renda, o simples clicar no link para ser encaminhado para o texto, mas a maioria despreza solenemente o seu pedido e ainda aproveita para te ofender, grosseria extrema.
Anos atrás, a experiência de acompanhar os comentários nas postagens era agradável, você sentia que o público demonstrava gratidão, ultimamente tenho desperdiçado um tempo absurdo apenas bloqueando pessoas deselegantes.
E, ao estabelecer contato com colegas que também trabalham na área, percebo que é um problema generalizado. Um já desistiu, partiu para o ramo da fofoca da TV, cada postagem com link sobre qualquer baixaria viraliza facilmente, dinheiro agora se tornou chuva torrencial, ele não se preocupa nem mais com a escrita correta, trata o público como lixo, ou, como o próprio me relatou de forma jocosa: “da maneira que eles merecem”. Terrível, não?
Eu só me entristeço profundamente, enxergo o que faço como missão de vida, amo o cinema, a literatura, luto desde o início pela valorização da memória cultural, o caminho mais seguro para a formação de um público criterioso.
Como escritor por vocação, apaixonado, fico desolado, ninguém neste país quer ler. Se não leem um artigo de poucos parágrafos, imagine o que sobra para o livro, aquele objeto que o brasileiro não deseja mais nem como decoração na estante empoeirada.
Eu lancei meu terceiro livro como e-book na Amazon, mas, por mais que eu divulgue, sinto como se estivesse vendendo um artefato de Chernobyl. O brasileiro não quer nem de graça, atravessa a rua para não ter que negar o interesse.
O povo está correndo na direção de um abismo, sinto muita pena, o país é tão lindo, há tanto potencial, mas começo a acreditar que não há como reverter o estrago.
Eu seguirei trabalhando, amo o que faço, amo a palavra escrita. Não sou parte do problema, não vou modificar negativamente minha conduta profissional objetivando lucro, não vou parar de escrever, ainda que sobre ao final de tudo apenas uma leitora: a minha própria consciência.
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