No “Dica do DTC”, a nova seção do “Devo Tudo ao Cinema”, a intenção não é entregar uma longa análise crítica, algo que toma bastante tempo, mas sim, uma espécie de drops cultural, estimulando o seu garimpo (lembrando que só serão abordados filmes que você encontra com facilidade em DVD, streaming ou na internet). O formato permite que mais material seja produzido, já que os textos são curtos e despretensiosos.
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O Trovador Kerib (Ashug-Karibi – 1988)
O menestrel errante Ashik Kerib (Yuri Mgoyan) se apaixona pela filha de um comerciante rico. No entanto, o pai dela o rejeita e o obriga a vaguear pelo mundo por mil e uma noites – mas não antes de a filha prometer não se casar até ele voltar.
Quando comecei a atuar profissionalmente na área da crítica, em 2008, costumava brincar sempre que me perguntavam sobre filmes que eram muito respeitados, mas que não me tocavam de forma alguma, citando “A Cor da Romã” (1969), do saudoso cineasta armênio Sergei Parajanov. Ele era frequentemente utilizado nas rodinhas de discussão cinéfila como um exemplo de grandeza, defendido por aqueles colegas mais inseguros, que gostavam de utilizar obras profundamente herméticas, umbilicais, como óbvia muleta intelectual.
O caso é que, passados tantos anos, após rever a filmografia do diretor, continuo considerando o seu trabalho altamente superestimado, não me cativa no aspecto sensorial, muito menos no aspecto intelectual, mas constatei que “A Cor da Romã” está longe de ser a sua experiência mais chata e pedante, hoje, caso perguntado, destacaria negativamente “A Lenda da Fortaleza Suram” (1985), “Flor Sobre a Pedra” (1962), “Sombras dos Ancestrais Esquecidos” (1965), “Andriesh” (1954) e “Rapsódia Ucraniana” (1961). Eu passei a gostar de “A Cor da Romã”? Não, mas perto destes que citei, ele é inegavelmente melhor.
E neste processo de revisão, acabei redescobrindo um título que ganhou muitos pontos, uma pérola da fase crepuscular de sua carreira, “O Trovador Kerib”, um filme que Parajanov dedicou ao amigo, o mestre russo Andrei Tarkóvski.
O estilo e o ritmo desta feita não prejudicam a imersão emocional, também não soam como opções gratuitas visando apenas o reconhecimento em festivais, nada soa pretensioso, tudo faz sentido dentro da proposta, a atmosfera onírica evoca sensações únicas ao longo da jornada, você enxerga o esforço em te entreter, a obra termina e você genuinamente sente vontade de absorver por mais tempo aquele fascinante universo.
- Você encontra o filme com facilidade garimpando na internet.